Até o dia 13 de novembro o Centro do Rio se transforma em uma galeria a céu aberto com o projeto "Mixagens Urbanas", uma exposição de lambe-lambes que ocupará as ruas da região portuária entre Gamboa e Saúde. A mostra apresenta as obras de cinco artistas indígenas, negros e não-binários que, por meio de vivências decoloniais, redefinem espaços históricos e imagens do universo da História da Arte, a exemplo das gravuras de Rugendas (1802-1858) e Debret (1768-1848).
"Nosso desejo é ressignificar imagens tidas como canônicas ou como únicas narrativas de uma história contada apenas pelos opressores", ressalta Julia Baker, curadora e idealizadora do projeto.
Na série "Devolta", Diambe desafia a simbologia da monarquia ao criar coreografias com o fogo em torno de estátuas icônicas, como as de D. Pedro, D. João VI e a Princesa Isabel. Uma ação que busca descolonizar o espaço, questionando quais heróis estamos homenageando em bronze.
André Vargas utiliza as palavras para questionar as localidades fotografadas. Em "Hoje só Lavaremos a Alma", ele ocupa o espaço da antiga lavanderia dos escravos no Parque Lage, destacando a questão do trabalho escravo. Em "Calunga Grande", ele apresenta uma faixa em frente à Praça Mauá, ressignificando o local de desembarque de pessoas escravizadas.
Em "Todo o Mar em Mim", Martins Fortunato utiliza imagens de arquivo de uma mulher negra, ressignificando-a e associando-a a Iemanjá, a mãe do mar e das cabeças (orí).
Gê Viana trabalha com colagens digitais, intervindo em gravuras de Rugendas (1802-1858) e Debret (1768-1848). Suas séries "Negros Livres" e "Atualizações Traumáticas de Debret" questionam as representações totalizantes da realidade, apresentadas por esses cronistas do Brasil colonial/império.
Denilson Baniwa participa com as obras inéditas "Conselho Tamoio 01 e 02", que reafirmam a sua arte política. Nelas, podemos ver indígenas reivindicando o território com uma placa: "Rio de Janeiro - Terra Indígena".
"Fugir do cubo branco e permitir o encontro entre passantes e os trabalhos artísticos fez com que desejássemos uma exposição no ambiente das ruas, utilizando uma linguagem comum a ela: o lambe-lambe", finaliza Baker.
O ponto de partida para o percurso que dá acesso às obras será o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB), na Gamboa. Lá, os visitantes encontrarão um QR code que os levará ao site com o itinerário completo, além de informações detalhadas sobre as obras e os artistas envolvidos. Além disso, será disponibilizado um flyer contendo todas as informações relevantes.
O projeto também oferece duas oficinas de lambe-lambe ministradas por Bruna Santos. Os encontros acontecem na sala 203 do Centro de Artes Calouste Gulbenkian, (Rua Benedito Hipólito, 125 - Praça XI) nos dias 25/10 (para crianças e adolescentes de 10 a 17 anos) e 28/10 (para o público em geral), sempre das 14h às 18h. Não é preciso fazer inscrição.
SERVIÇO
MIXAGENS URBANAS
ponto de partida: Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira - MUHCAB (Rua Pedro Ernesto, 80 - Gamboa)
Até 13/11
Grátis