Cultura | A força de um poema que chega aos palcos

Atriz e diretora Ana Kfouri reestreia ‘Uma Frase Para Minha Mãe’, baseada na obra de Christian Prigent

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A atriz e diretora Ana Kfouri consolidou, ao longo de mais de 40 anos de carreira, uma pesquisa cênica em que o corpo e a palavra estão sempre em relação. A cada novo experimento, desafios se impõem, e o resultado é sempre vigoroso e singular. E, para o espectador, algo enriquecedor. Prova disso é seu espetáculo mais recente, “Uma Frase Para Minha Mãe”, criado a partir do livro homônimo do premiado poeta Christian Prigent, traduzido e adaptado por Marcelo Jacques de Moraes.

Para esse desafio, a artista permitiu-se, pela primeira vez, dirigir a si própria, tendo, para tanto, a colaboração artística de Marcio Abreu. E o resultado não poderia ter sido mais assertivo, com ela sendo indicada como melhor atriz aos prêmios Shell, Cesgranrio e Botequim Cultural, tendo sido agraciada com o Questão de Crítica por sua dedicação à criação cênica e à formação de artistas, bem como por este novo trabalho.

Desde sua estreia, em 2018, o solo cumpriu duas temporadas no Rio de Janeiro, uma em São Paulo e participou do Festival de Curitiba. E, em 2021, vai para além da cena. Contemplado com o edital “Retomada Cultural, da Lei Aldir Blanc, da Sescretaria Estdual de Cultura, o projeto se desdobra em quatro ações que incluem live com Prigent e Jacques de Moraes (06 de março); aula-espetáculo (13 de março), oficinas teórica e prática (20 e 21 de março), ambas ministradas por Ana, culminando na apresentação de “Uma Frase Para Minha Mãe”, no dia 27 às 20h, no YouTube.

Era o ano de 2015 quando Ana Kfouri foi apresentada à poética de Prigent. Num colóquio na UFRJ, Ana leu traduções de poemas e fragmentos de obras do escritor. O de “Uma Frase Para Minha Mãe” tinha uma página e meia – pouco, se comparado ao original, de mais de 200 páginas, mas o suficiente para aguçar na artista o desejo de levá-lo à cena".

O autor vai além do esboçar um retrato de uma figura materna. A narrativa tem toques proustianos ao refletir sobre a passagem da vida à literatura e sobre o nascimento de um escritor, além de mobilizar sensações afetivas e corporais ligadas à figura e à língua materna, envolvendo afeto, filosofia, pensamento, visão de mundo, política e pesquisa de linguagem.

A preparação para esse trabalho exigiu (e ainda exige), como ela mesma diz, “leituras, leituras e mais leituras”. E, aos poucos, platéias foram chegando, como a que presenciou a leitura no Tempo Festival, em 2016. A preparação avançou, o espetáculo estreou e Ana não descuida do texto. Com o projeto aprovado pela Lei Aldir Blanc, voltou a passá-lo em suas caminhadas diárias. “Meu processo de criação e memorização de texto é corpóreo. Adoro memorizar o texto caminhando. Areja o pensamento, abrem-se frestas, o corpo todo vai assimilando e respirando as palavras”, conta Ana Kfouri.