Krajcberg & Zanine, o artista e o arquiteto em diálogo permanente

Exposição na Galeria Athena promove o encontro de obras e de ideias de dois ícones da cultura e da luta ambiental

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Frans Krajcberg, escultor polonês radicado no Brasil

O artista Frans Krajcberg (1921-2017) e o arquiteto e designer José Zanine Caldas (1919-2001) foram amigos e se influenciaram mutuamente em seus segmentos de atuação. Esta sinergia pode ser conferida a partir deste sábado (23) na exposição inédita "Krajcberg & Zanine", na Galeria Athena.

A mostra explora os pontos de contato entre as obras de dois grandes nomes da cultura brasileira, ressaltando a preocupação de ambos com o meio ambiente. A relação dos dois é pouco conhecida e até hoje nunca havia sido feita uma exposição sobre o assunto. "Krajcberg e Zanine foram muito amigos e tiveram uma convivência muito próxima com a natureza. Existe um diálogo entre as suas obras, e a ideia da exposição é apresentar o melhor de cada um deles", diz Liecil Oliveira, sócio da Galeria Athena.

A exposição apresentará cerca de 20 peças, entre esculturas de Krajcberg, dos anos 1960 e 1970, e itens de mobiliário e também uma escultura de Zanine, dos anos 1970 e início de 1980. Com produções bem diversas, os dois têm em comum o uso sustentável da madeira e a preocupação com o meio ambiente, já na década de 1970, quando pouco se falava sobre o assunto.

Na exposição, serão apresentados relevos de parede de Krajcberg, feitos a partir de madeiras provenientes de queimadas e desmatamentos, com pigmentos naturais, criados por ele, nas cores preto, branco e vermelho. Haverá, ainda, uma única e grande obra de chão, da série "Bailarinas", feita a partir de madeira queimada e pigmentos naturais.

Ainda de Krajcberg, haverá obras da "Série Sombra", técnica que consiste em capturar a sombra projetada por algum elemento natural, recortando em um suporte de madeira o desenho criado, que depois é fixado na peça, dando relevo e volume. "Era um projeto complicadíssimo, no qual ele colocava no sol aquilo que ele queria criar uma sombra, mas nem sempre ficava como ele queria e ele ia desenhando na madeira o defeito que aparecia. Ficava horas fazendo isso. Algumas eram sem cor, madeira lavada, mas na grande maioria ele usava elementos da natureza, pigmentos que ele encontrava no minério ou na terra, e trabalhava este pigmento para criar essas cores", afirma Liecil.

De Zanine serão apresentadas peças icônicas de mobiliário e design, conhecidos como "Móveis Denúncia", que faziam um alerta sobre o desmatamento e o desperdício de matéria-prima na Mata Atlântica. Dentre elas, destacam-se uma mesa de jantar e a emblemática poltrona namoradeira.

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