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O oceano artístico de Felipe Yung

Estudos da água-viva feita pelo artista usando Inteligência Artificial: esboços serviram de parâmetro para a escultura final: oito metros de altura no famoso salão do cassino | Foto: Divulgação

Considerado como o detentor da segunda maior cúpula do mundo - perdendo por pouco para a da Catedral de São Pedro, no Vaticano - o Salão Mauá, que outrora abrigou o luxuoso cassino do Palácio Quitandinha, em Petrópolis, vai ganhar uma instalação artística inspirada nas pinturas de Santa Rosa, artista homenageado na ocupação. Pelas mãos de Felipe Yung, o Flip, o espaço exibirá o resultado dos estudos e influências de forma contemporânea, usando a água-viva, icônico personagem do artista.

E desta vez, ao invés de retratá-la em pinturas, Flip marcará seus 30 anos de carreira fazendo sua maior instalação física: uma escultura inflável da água-viva, de oito metros de altura e com luzes LED. A obra integra a ocupação do Centro Cultural Sesc Quitandinha "Da Kutanda ao Quitandinha", que marca os 80 anos do icônico palácio, em Petrópolis.

A ocupação começa nesta sexta-feira (1º) e segue com programação diversa até 25 de fevereiro de 2024.

Felipe Yung, o Flip, tem pinturas espalhadas por vários países; réplica da água-viva para exposição tátil: experiência multissensorial

O artista nutre uma fascinação por águas-vivas, que se tornaram uma linguagem importante em sua trajetória artística. Essas criaturas aquáticas, símbolo de movimento incessante, personificam a alma inquieta de Flip, cujos pincéis e sprays nunca repousam. De São Paulo ao Japão, passando pelo Oriente Médio, como as águas-vivas que flutuam livres no ritmo dos mares, Flip deixa sua marca e traços únicos por onde passa.

"Além de estético e fascinante, o animal e sua presença em massa no universo marinho servem como um alerta de desequilíbrio e desarmonia. Pensei na instalação como uma forma de levar a reflexão sobre as presenças que eventualmente são um incômodo em nossa sociedade, valorizar a convivência, exercitar a tolerância, trazer o acolhimento e aceitação de uma forma multicolorida e lúdica", explica Flip, que fez seu nome nas ruas. Mestre dos sprays e canetões, ele coloriu e rabiscou São Paulo por anos, aperfeiçoando sua caligrafia nos muros da cidade, como reza a tradição do graffiti.


Obra terá uma versão tátil, proporcionando experiência lúdica

Réplica da água-viva para exposição tátil: experiência multissensorial | Foto: Divulgação

Aideia de dar outras formas às suas pinturas vem da paternidade. Felipe Yung se inspirou em seu filho Bento, diagnosticado dentro do TEA (Transtorno do Espectro do Autista), com quem estabeleceu forte conexão através da arte, das cores e das formas. Por isso, para garantir acessibilidade e inclusão no Salão Mauá, a obra ganhará uma versão tátil, criada especialmente para pessoas que necessitam de uma experiência mais lúdica e sensível ao mundo da arte.

Para Marcelo Campos, responsável pela curadoria geral da ocupação, a instalação de Flip traz ao Quitandinha uma nova forma de interação. "É como seguir adiante, renovar… Trazer para os salões uma obra inflável do artista Flip, que promove a interatividade com o público, é estabelecer um diálogo pensado especificamente para os salões do palacete-mocambo", afirma. Para o Palácio Quitandinha não é novidade ter em seus cômodos temas marinhos. A piscina do ex-cassino, icônica com seu formato de piano de cauda, recebeu pinturas feitas pelo artista Santa Rosa, inspiradas na obra "20.000 léguas submarinas", de Júlio Verne. O Sesc precisou encomendar azulejos vitrificados para proteger o ambiente, já que os originais não são mais fabricados.

Em 1944, um ano antes de ser decretado o fim da Segunda Guerra Mundial, o hotel-cassino Quitandinha abria suas portas. Foi palco, pouco tempo depois, da Conferência Interamericana que seguia os interesses dos países em criar autodefesa em tratados selados por reuniões iniciadas em outros países, ainda no fim do século 19. Com isso, além das presenças ilustres, como de Walt Disney e atores e atrizes hollywoodianos, "os salões do Quitandinha, ao longo desses 80 anos, foram, também, redutos da utopia pela paz mundial, frequentados por artistas visuais que realizavam missões diplomáticas, por representantes dos movimentos étnico-raciais, por presidentes e embaixadores", relembra Marcelo Campos.

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