Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Um amor verdadeiro

La Traviata | Foto: Divulgação

Em janeiro de 1847, uma jovem estava morrendo de tuberculose no número 11 do Boulevard de la Madeleine, em Paris. O nome dela era Marie Duplessis. Ela completara recentemente 23 anos e era a cortesã mais elegante de Paris, a rainha incontestada das horizontais que servia a rica burguesia, as classes altas, os artistas, os escritores e os músicos da cidade.

A sua vida e morte inspirariam a ópera mais famosa de Giuseppe Verdi - "La Traviata", sua única obra contemporânea. Num mundo de fantasia da ópera onde os enredos frequentemente desafiam a credulidade, "La Traviata" é extraordinariamente realista.

Na verdade, ainda hoje, não é necessário um grande salto de imaginação para que o público aceite que o amor trágico de Violetta Valery e Alfredo Germont se desenrola na Paris de meados do século XIX e nos arredores, e não no palco.

Depois de mais de duas décadas ausente, "La Traviata" está de volta ao palco do Theatro Municipal a partir desta sexta-feira (17).

Nos principais papéis estão os cantores Ludmilla Bauerfeldt, Laura Pisani e Michele Menezes (Violetta), Matheus Pompeu, Ricardo Gaio e Ivan Jorgensen (Alfredo), Lício Bruno e Vinicius Atique (Germont). As récitas contam com a participação do Coro e da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal. A concepção e direção cênica são de André Heller-Lopes e a direção musical e regência ficam a cargo do maestro Luiz Fernando Malheiro.

"Interessa-me o fato de a ópera tratar do universo da alta prostituição e seus conflitos com uma moral religiosa; no entanto, é na cortesã que está o amor, enquanto que a morte vem pelas mãos das imposições de uma sociedade moralista que pretende tomar para si a palavra divina. Ambos os temas permanecem atuais em nosso mundo — e arrisco dizer que assim continuarão por muitos anos futuros, infelizmente. Seja no século XIX ou num futuro distópico, La Traviata mantém-se contemporânea", ressalta o Diretor Cênico da ópera, André Heller-Lopes.

Segundo todos os relatos, Duplessis era tão refinada quanto brilhante, precoce e generosa. Franz Liszt estava entre seus muitos amantes. Ele estava viajando pela Rússia quando recebeu a notícia de que ela havia morrido. A natureza dela, declarou ele, era a natureza mais doce, pura e serena, imaculada pela corrupção de seu mundo sombrio. Nem a grande imprensa francesa se conteve nas suas homenagens após a sua morte em 3 de fevereiro de 1847. Afinal, além de amantes como Liszt, Alexandre Dumas, filho e - talvez também - Dumas, pai, o círculo mais amplo de conhecidos de Duplessis abrangia alguns dos seus contemporâneos mais ilustres.

Um ano após a morte de Duplessis, Dumas, filho escreveu A dama das Camélias. Eles eram amantes há 11 meses. O romance foi instantaneamente reconhecido como um romance a chave (pessoas reais por meio de personagens fictícios). A dama das camélias, principalmente, por causa de seu retrato sincero e sem remorso de prazeres e vícios proibidos, conquistou o mundo e inspirou várias obras, inclusive La Traviata. O pretexto de Dumas para basear isso tão intimamente na sua própria vida foi que aos 24 anos ele era jovem demais para inventar ficção.

SERVIÇO

LA TRAVIATA

Teatro Municipal (Praça Floriano s/nº - Cinelândia)

17, 23, 24 e 25/11 (19h), 19 e 26/11 (17h) | Ingressos: frisas e camarotes - R$ 80 (ingresso individual), plateia e balcão nobre - R$ 60, balcão superior - R$ 40 e galeria - R$ 20

 

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