Também no abre passa "Ciranda Feiticeira", novo curta do pioneiro animador pernambucano Lula Gonzaga, feita em duo com Tiago Delácio. No pacotão do evento está a produção francesa "Le Petit Nicolas: Qu'Est-ce Qu'On Attend Pour Être Heureux?", de Amandine Fredon e Benjamin Massoubre, que ganhou o troféu Cristal no Festival de Annecy (a Cannes dos longas animados) em 2022.
Tem ainda "Intersextion", de Richard Roger Reeves (Canadá); "Balcony Cacophony", Quentin Haberham (Holanda); e "The Nighthawk Is Not a Hawk", de Wang Junjie (China).
"Pela primeira vez no festival, haverá um filme da Ilha da Reunião, um país da África Oriental, no Oceano Índico: 'Gromonmon', de Laurent Pantaléon", conta o animador e crítico Júlio Cavani, organizador do festival e um de seus curadores.
"Teremos também um primeiro longa de Camarões, 'La Grotte Sacrée', que conta uma história anterior à colonização africana. A presença de filmes da República Tcheca não é uma novidade no festival, mas este ano vamos resgatar clássicos desse país, produzidos entre as décadas de 1940 e 1960, representados pelos mestres animadores Jirí Trnka e Hermína Týrlová. Isso é importante porque essa cinematografia de animação ainda está sendo descoberta aos poucos pelo Ocidente, pois esteve oculta durante décadas por questões geopolíticas".
Integram a equipe curatorial do Animage Chia Beloto (PE), Nara Aragão (PE), Radhi Meron (SP), Pâmela Peregrino (BA), Kalor Pacheco (PE) e Paola Becco (Argentina). Ao lado de Cavani, essa turma traz para o país a joia "27", da húngara Flóra Anna Buda. Ela não só estava na Competição Oficial do Festival de Cannes como venceu a Palma de Ouro de Curta.
Ainda em seu cardápio, o Animage oferece Mostra Africana, Mostra Brasil, Mostra Erótica, Mostra Retrospectiva Marão, Mostra Argentina Our Fest e uma seleção dedicada à obra de Hermína Týrlová. "A programação do festival procura ser sempre bem equilibrada territorialmente, sem ênfases, por exemplo, em países ou regiões do Brasil", explica Cavani. "No lugar de novas linguagens tecnológicas, o que chama mais atenção é a valorização dos processos clássicos mais artesanais, executados por mãos humanas, com resultados mais orgânicos. Exemplos disso são longas-metragens como 'Os Demônios do Meu Avô', o primeiro de Portugal em stop motion, e 'Bizarros Peixes das Fossas Abissais', o aguardado desenho animado surreal do instigadíssimo animador carioca Marão, quase todo desenhado em folhas de papel. Tem ainda 'Johnny & Me', animação alemã com uma combinação de técnicas, especialmente de fotomontagens e recortes. Há ainda 'Velhas Lendas Tchecas', um épico stop motion de 1952 restaurado com toda a sua potência".
Ao adotar como lar o polo audiovisual que revelou de "Baile Perfumado" (1996) a "Bacurau" (2019) - ou seja, Pernambuco -, o Animage passou a escoar a produção animada de seu estado e servir como vitrine para as experiências locais.
"Pernambuco comemorou 50 anos de cinema de animação em 2022. O marco inicial foi o curta-metragem 'Vendo-Ouvindo', de 1972, dirigido por Lula Gonzaga, que é o artista pioneiro do estado", conta Cavani. "Em 2023, Lula abre a programação com seu novo filme, 'Ciranda Feiticeira', codirigido pelo filho, Tiago Delácio. A produção pernambucana foi esporádica ao longo das primeiras décadas, mas cresceu muito nos últimos anos. No ano passado, foi lançado o primeiro longa-metragem pernambucano de animação, 'Além da Lenda', que está representado no Animage com a presença, no júri, do produtor Ulisses Brandão, responsável pelo frutífero estúdio de animação pernambucano Viu Cine. Neste ano, havia cerca de uma dezena de curtas-metragens inscritos, avaliados pela comissão de seleção do Animage".