Um centro cultural com gosto de Lapa

Rio ganha novo espaço para as artes, a Casa Tao, na Joaquim Silva

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Casa Tao - Claudio Mascarenhas

Arevitalização do Centro do Rio vai aos poucos dando sinais de vida. Nesta sexta-feira (1), no coração da famosa Rua Joaquim Silva, o artista Claudio Mascarenhas, radicado há mais de 20 anos em Nova York, decidiu investir parte do que conquistou como baixo-barítono nos EUA e Europa num sonho que nutriu desde que decidiu deixar o país: ajudar a cidade onde nasceu e cresceu.

"O Rio dispensa comentários e apresentações. Mas o grau de degradação a que chegou, sobretudo esta região tão simbólica como a Lapa, me fez refletir sobre alguns propósitos. Venho sempre ao Brasil e me corta o coração ver o Centro assim. Então, decidi criar um espaço multicultural que possa ajudar a encontrarmos um caminho. Seja para nós mesmos, para a região, para a cidade. Caminho, na filosofia chinesa, é o Tao. Então, teremos a Casa Tao", explica Mascarenhas.

Quis o destino que o caminho encontrado por Claudio Mascarenhas tenha sido os Estados Unidos onde, como tantos outros brasileiros que buscam o seu El Dorado na "América", trabalhou como passeador de cachorro e segurança de boate.

"Tudo mudou quando a Rainha Margreth II, da Dinamarca, conheceu meu trabalho e ajudou a financiar meus estudos e permitiu que eu me apresentasse no Regina Opera e no Opera Company, no Brooklyn, por exemplo. Ela abriu um caminho pra mim. Agora quero poder abrir para outras pessoas também", completa Mascarenhas.

A Casa Tao abre as portas com uma mostra inédita da fotógrafa Andrea Nestra sobre o artista plástico Jorge Selarón, que transformou a escadaria que leva à Santa Teresa num dos pontos turísticos mais fotografados do Rio.

Em sequência, um seminário de Wing Tsun ministrado pelo próprio Mascarenhas, e uma homenagem ao cineasta Neville D'Almeida. E já nas próximas semanas vai sediar o I Festival Imortal Urbano, um evento de espiritualidade com diversas práticas como yoga, meditação, biodança, além de workshops sobre saúde, longevidade e prosperidade, através do equilíbrio entre corpo, alma e espírito.

"Não existe mudança sem estarmos equilibrados. O equilíbrio, a saúde mental, tudo isso são os desafios da contemporaneidade. E aqui será um espaço dedicado a trabalhar um pouquinho de cada coisa, permitindo que a gente possa desenvolver a potencialidade de cada um", finalizou o empresário.

O casarão adquirido por Mascarenhas foi erguido no século passado, chegou a funcionar como hotel na década de 30, em seguida como uma casa de cômodos e com o passar dos anos o imóvel acabou sendo completamente descaracterizado, inclusive fora dos padrões estabelecidos pelo poder público.

"Tiramos mais de 100 caçambas, cerca de 500 toneladas de entulho. Retiramos tudo que era ilegal e irregular e devolvemos à cidade uma casarão na sua estrutura original, com as tesouras do telhado em massaranduba, a escada em peroba do campo. O piso, em sucupira maciça, é que precisamos refazer. Foi um trabalho manual, quase artesanal, que durou 1 ano e meio", explicou Chris Araújo, responsável pela obra que custou cerca de R$ 1,5 milhão e devolveu à Joaquim Silva uma de suas mais bonitas construções. Um presente não só para a rua, mas para o Rio