Por:

Fortaleza de invenção

Destaque em 'Bacurau' e 'Marte Um', Carlos Francisco tem nova grande atuação neste drama sobre paternidade | Foto: Divulgação

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Um dos responsáveis pelo marco do cinema de invenção dos anos 2000 "Estrada Para Ythaca", o cearense Guto Parente viu sua carreira ser catapultada para o Olimpo da consagração mundial ao conquistar quatro prêmios no Festival de Tribeca, em Nova York, em junho, com "Estranho Caminho".

Assegurada já para a Première Brasil do Festival do Rio (5 a 15 de outubro), essa história fantasmagórica sobre paternidade agora tenta sorte na disputa pela láurea Horizontes Latinos de San Sebastián, na Espanha.

"Meu pai morreu em 2017 e, embora nossa relação tenha sido distante, eu nunca duvidei do amor dele e sempre encarei seu modo misterioso de ser como um estímulo à imaginação, para entender quem ele era", diz Parente ao Correio da Manhã.

Além dos troféus de Melhor Filme e Melhor Realização, Tribeca coroou com prêmio a fotografia dionisíaca de Linga Acácio, que se deleita na luz natural das paisagens cearenses a fim de trazer a natureza como um vetor de arejamento para uma conjugação afetiva que começa a ser esboçada entre um cineasta, David (Lucas Limeira, sempre numa composição doce, sabiamente contida), e o pai que há tempo não via, Geraldo.

Esse papel foi dado ao sempre surpreendente Carlos Francisco (visto em "Marte Um" e "Bacurau"). Foi dele o quarto troféu nova-iorquino para a longa-metragem, a mais madura da carreira prolífica de um cineasta que arrebatou a Mostra de Tiradentes, há uma década, com "Doce Amianto" (realizado ao lado de Uirá dos Reis) e voltou a brilhar (a partir de Roterdã) com "Inferninho", rodado em dupla com Pedro Diógenes, em 2018.

"Meu pai era um cinéfilo, sempre me levava para ver filmes e, nos fins de semana, ia até a locadora perto de onde morava e alugava uma série de filmes. Um deles foi 'Pickpocket', de Robert Bresson, ao qual eu faço uma homenagem em 'Estranho Caminho'. Durante a covid-19, na pandemia, enquanto estava quarentemado sozinho em casa, resolvi escrever um filme a partir do qual pudesse me reconectar com meu pai, que também se chamava Geraldo como o personagem", diz o cineasta, que já prepara um novo longa para 2024, chamado "O Futuro a Deus Pertence", para rodar no Ceará. "A Fortaleza que eu filmo é uma Fortaleza sentimental, com referências a lugares que eu frequento, ainda que vistos numa atmosfera fantasmagórica. É um olhar particular, pois acredito que o cinema cearense tem uma pluralidade que vem dos processos formativos derivados de editais públicos. Nossas pesquisas estéticas podem ter interseções, mas são muito diferentes".

Continua na página seguinte