Uma questão de representatividade
Ator e produtor Jeff Fagundes é eleito para a presidência do Instituto Internacional do Teatro no Brasil
Uma missão importante nas mãos de quem conhece com propriedade a falta de protagonismo negro pelos espaços, principalmente no meio artístico. O ator e produtor, Jeff Fagundes, brasiliense morador do Rio há 10 anos, foi eleito presidente do Instituto Internacional do Teatro (ITI), o qual incentiva atividades e a criação no campo das artes cênicas: dança, teatro, dramaturgia e cinema. O articulador é o membro mais novo a ocupar este cargo no mundo.
Após seis anos de atuação voluntária no instituto, este passo reconhece o trabalho prestado e o tamanho da potencialidade de Jeff. "Olhando para um país que enfrenta uma violência contra negros, lgbtqia e periféricos, estar nesse lugar requer responsabilidade, bem como pautar demandas nacionais e internacionais de artistas para tentar apoio de cooperação, troca de tecnologias da cena, de fomento e de gestão cultural sustentável e socialmente engajada", ressalta.
Fundado na República Checa, em 1948, e diado atualmente em Xangai, na China, o ITI promove o intercâmbio de conhecimento e prática nas artes fundamentadas nas metas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sobre a paz e amizade entre os povos, aprofundando a compreensão mútua e aumentando a colaboração criativa entre os envolvidos, independente de idade, sexo, religião ou etnia.
Filho de ex-empregada doméstica e ex-trabalhador da roça, o artista vivenciou muitos percalços ao lado da família. "Minha avó materna era filha de indígenas obrigados a migrarem de uma tribo dizimada. Já o meu avô paterno andava quilômetros para visitar o meu pai na escola após interná-lo: era a garantia da educação e comida para ele", recorda.
Auno de escola pública durante a adolescência, Jeff se formou no ensino superior em artes cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), após abandonar a faculdade de Relações Internacionais em Brasília, se mudando com apenas R$ 300 no bolso. "Morei por dois anos em um porão e fui recepcionista em um hostel que mudou minha vida. Nele, de forma autodidata, treinava vários idiomas", revelou.
E foi toda esta experiência que o impulsionou anos depois para uma grande conquista: a aprovação em um edital da Unesco da Espanha.
Jeff Fagundes acredita que com a reabertura do Ministério da Cultura e o apoio das organizações civis, novos espaços sejam conquistados. "Vamos lutar para encontrar parceiros para garantir ensino gratuito de idiomas e dramaturgia para artistas e jovens periféricos, incentivo de legendagem em outras línguas para espetáculos brasileiros e um fundo de apoio para grupos teatrais que são convidados a participar de festivais internacionais, mas não encontram base para viagens. Queremos também fomentar o futuro das artes cênicas mundiais. Esse foi o objetivo do instituto ao dizer sim a minha proposta para o país em seu nome", concluiu.
