Profissionais alertam para o golpe do 'falso advogado'
Criminosos usam processos em andamento para praticar estelionato
Por Lanna Silveira
O "golpe do falso advogado" está se tornando cada vez mais comum entre pessoas que possuem processos em andamento na justiça. A fraude consiste em se passar pelo advogado de um autor de processo e informar que ele receberá um valor de ganho de causa, solicitando os dados bancários daquele cliente e concluindo, assim, a ação de estelionato.
Em Volta Redonda, a tatuadora Cinthia Alvim, que tinha um processo judicial em fase de conclusão, foi uma das vítimas. O grupo de criminosos entrou em contato com Cinthia pelo Whatsapp se passando por sua advogada, usando, inclusive, sua foto no perfil. A mensagem informava o ganho de causa do processo do cliente. Na ocasião, Cinthia havia trocado de celular recentemente e, por ainda não ter salvado o número de sua advogada e não possuir o histórico anterior de mensagens, acreditou que poderia ser ela.
Junto à mensagem inicial, os criminosos enviaram um arquivo em PDF do processo em questão, com assinatura digital. A advogada de Cinthia, Jéssica Lopes, explica como os golpistas conseguem ter acesso a todas as informações e documentos pessoais relacionadas aos trâmites: "os processos judiciais são públicos; qualquer advogado com um token (senha específica para acesso) consegue acessar qualquer processo judicial na íntegra. Existem sistemas como o Jusbrasil em que, se você pagar, você tem acesso na íntegra. Só não é possível acessar os processos em segredo de justiça, como os da área de família e criminal, por exemplo."
Cinthia acrescenta que, conforme explicado a ela por sua advogada, os golpistas dão preferência aos processos que estão próximos de serem concluídos, para passar mais veracidade. A vítima, que já passou por procedimentos de ganho de causa anteriormente, afirma que a simulação dos golpistas é muito próxima à realidade.
O golpe ocorreu quando os criminosos informaram à Cinthia que, para receber o valor da causa, ela primeiro precisaria passar por um protocolo de reconhecimento da titularidade de sua conta bancária, que seria feito por meio de uma transferência. Neste momento, os golpistas têm acesso aos dados bancários da vítima. Foi informado, ainda, que uma audiência online seria feita com um juiz para proteger o saldo do cliente - os criminosos utilizam essa chamada para ganhar tempo e conseguir acessar a conta da vítima. No caso de Cinthia, três links de pagamento foram gerados com a justificativa da validação da conta. As transferências feitas chegaram à ordem de R$ 9 mil.
Somente após a conclusão das transações, Cinthia percebeu que aquele não era o contato de sua advogada e reconheceu o golpe. Elas abriram um boletim de ocorrência para registrar o crime. Porém, a possibilidade de recuperação do valor perdido é baixa devido à dificuldade em localizar os criminosos, que aplicam os golpes em cidades distantes de onde moram e usam vários métodos para diminuir rastros. "Eles trocam de número de telefone a todo momento, e o pix é enviado para empresas fantasmas ou para pessoas físicas que não conseguimos encontrar", explica Jéssica.