Grevistas lotam entrada das usinas nucleares de Angra

Sede faz greve por 24h e Angra decide por tempo indeterminado

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Greve na entrada das usinas nucleares reuniu centenas de trabalhadores da Eletronuclear

Por Ana Luiza Rossi

Os trabalhadores da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), em Angra dos Reis, deram início a greve, por tempo indeterminado, nas usinas nucleares Angra 1 e Angra 2 a partir desta terça-feira (08). Desde meia-noite, os grevistas se reuniram no trecho de entrada das usinas, em Itaorna, com placas, faixas e camisas pedindo pela negociação do Acordo Coletivo a partir de maio de 2024, além do reajuste salarial pelo IPCA pleno relativo ao período, de 3,69%.

Os funcionários da sede da estatal no Rio, vão aderir ao movimento a partir desta quinta-feira (10), mas por apenas 24 horas, segundo informações da própria Eletronuclear. Atualmente, o quadro de empregados da empresa em Angra dos Reis conta com 1.250 pessoas, enquanto no Rio de Janeiro são 550.

A Eletronuclear divulgou uma nota de esclarecimento, nesta mesma terça, afirmando que, apesar da greve, as usinas seguem seguras e sem impacto nas atividades essenciais. Angra 1 mantém a parada já programada antes de o movimento ser deflagrado.

No texto, publicado na página oficial da estatal, a empresa esclareceu que concedeu reajuste integral de salários e benefícios com base na variação do IPCA. A proposta foi apresentada na época de negociações para o próximo acordo coletivo.

- A Eletronuclear lamenta o impasse causado pelas entidades sindicais, que condicionam a assinatura do acordo à inclusão de uma cláusula que lhes confere participação em decisões de gestão da companhia. Esse condicionamento violaria a legislação vigente (art. 138 da Lei nº 6.404/1976) e os princípios de governança da Eletronuclear, pois exigiria a anuência das entidades para alterações nos normativos internos da empresa - disse.

Sindicato aponta falta de reajuste

Ao contrário do que afirma a empresa, o presidente do Sindicato dos Eletricitários de Angra e Paraty (Stiepar), Cassio Tilico, apontou que há cerca de dois anos que a estatal não paga a data-base e, em maio, será o terceiro ano sem o reajuste. Ainda de acordo com Cassio, 6,76% referentes a 100% do IPCA de 2022, mais 3,69% do IPCA de 2023/2024 ainda não foram pagos pela Eletronuclear, cujo percentual é aplicado sobre cada salário e benefício. Outra crítica do sindicato é sobre a exclusão de representantes sindicais da comissão de dispensa coletiva, segundo informações dadas ao site Petronotícias.

- Já tentamos negociações com a empresa. No entanto, afirma que não pode pagar e usa como justificativa a situação de Angra 3. O trabalhador não pode ser penalizado por um investimento do governo - afirmou.

Outras tentativas

Esta não é a primeira tentativa dos trabalhadores da capital e da Costa Verde entrarem em paralisação. Em junho de 2024, os funcionários entraram em greve por 3 dias a fim de pressionar a direção da empresa a negociar o acordo coletivo de trabalho válido para 2024/2026.

Pelo mesmo motivo, foi marcado em agosto de 2024 um novo movimento grevista que, na ocasião, foi anulado após o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) determinar a imediata suspensão dos movimentos. Na época, foi dado um prazo final para que a empresa e os funcionários entrassem em um consenso que, até hoje, ainda não aconteceu.

Empresa adota medidas de austeridade

Em fevereiro deste ano, a Eletronuclear promoveu uma série de medidas que visam a viabilização da usina nuclear de Angra 3, que precisa de um montante de nada mais nada menos que R$ 23 bilhões para conclusão das obras que iniciaram na década de 80.

Entre as medidas, estaria um Plano de Desligamento Complementar (PDC) para cerca de 90 empregados aposentados, o Plano de Demissão Voluntária (PDV) e a cobrança de uma taxa para custear serviços de manutenção das vilas residenciais destinadas aos funcionários em Angra dos Reis.