A Eletronuclear assinou, na tarde desta quinta-feira (28), o Memorando de Entendimento (MoU) com a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN) que busca viabilizar a produção de radiofármacos na usina nuclear Angra 2. O acordo foi assinado na sede da ENBPar, em Brasília, e é inédito entre as áreas de energia e saúde do campo nuclear.
Com a celebração do MoU, as duas instituições vão promover estudos de viabilidade para a produção do Lutécio 177, usado no combate a diversos tipos de câncer. Esse processo já foi testado e está na fase de implantação nas usinas de Cernavoda 2, na Romênia, e em Bruce 7, no Canadá.
Atualmente, por não ser produzido no Brasil, o Lutécio 177 necessita de uma logística completa de importação, ocasionando em altos valores para a aquisição - uma dose custa em média R$30 mil. Caso os resultados dos estudos sejam positivos, Angra 3 poderá implementar o mesmo processo.
“Nós vamos colocar os cérebros das duas instituições para trabalhar em conjunto e atender a saúde do Brasil e dos brasileiros. Se existe uma possibilidade de adaptar o nosso processo de geração de energia em Angra 2, sem dúvidas vamos fazer”, declarou o presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo.
O executivo destacou também a fala do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que busca ampliar a contribuição do setor nuclear para o país.
“A assinatura do acordo representa uma parceria estratégica entre o setor nuclear e a área de saúde. A colaboração fortalece o desenvolvimento de políticas públicas e pode viabilizar o acesso a novas tecnologias e tratamentos para a população, especialmente no tratamento do câncer", afirmou Silveira.
A presidente da SBMN, Elba Etchebehere, também celebrou a oportunidade de democratizar o acesso da população e afirmou que, com a assinatura do memorando, a medicina nuclear poderá utilizar de maneira mais eficiente os radioisótopos e radiofármacos.
“Hoje tudo vem de fora. Se nós pudermos ter aqui no país esse isótopo radioativo que é essencial para o tratamento oncológico, toda a população será beneficiada. Hoje menos de 1% dos brasileiros têm acesso a esse tipo de tratamento”, pontuou.
Entenda o caso
Angra 2 possui um sistema de medição de fluxo de nêutrons no interior do reator chamado aeroball. Realizando uma medição importante para a operação da usina, esse sistema consiste na circulação de pequenas esferas de aço por meio de tubos até o interior do reator, no ponto que se deseja fazer a medição. Ali essas esferas são expostas por alguns segundos ao fluxo de nêutrons e ao retornarem têm sua atividade medida, o que permite determinar com precisão a intensidade do fluxo ao qual foram expostas.
Para a produção do Lutécio 177, esferas contendo a sua matéria prima - Itérbio 176 são injetadas nesse sistema. Uma vez expostas à radiação, o Itérbio transforma-se em Lutécio 177, que é então remetido ao laboratório para processamento e preparação do radiofármaco.
A produção contínua desse radiofármaco em Angra 2 aumentará de forma significativa o acesso da população a esse tratamento, sem interferir de forma relevante na operação da usina ou gerar resíduos radioativos de longa duração.