Por Sônia Paes
O deputado federal Julio Lopes (PP-RJ), presidente da Frente Parlamentar Nuclear, defende que a retomada das obras da usina nuclear Angra 3 é inevitável para o desenvolvimento do país. Na opinião dele, seria um contrassenso econômico não concluir a obra. Motivo: a conclusão da usina gira em torno de R$ 20 bilhões, enquanto o investimento para desativá-la atinge a casa dos R$ 15 bilhões. O deputado afirma ainda que a parceria entre Brasil e França seria crucial para a obra, mas, no entanto, não há impeditivo para que o Brasil toque a obra.
A saída para isso seria colocar em prática o programa Renuclear, no âmbito federal e estadual. Nesse caso, a União abriria mão de impostos, assim como o Estado do Rio de Janeiro. "A União federal abre mão de receber 5 bilhões que ela mesmo teria que pagar. Então é algo fácil de entender nesse contexto da obra de Angra 3. São quase 5 bilhões são de impostos federais que União iria cobrar dela mesmo. Porque quem financia a obra é ela e quem recolheria o imposto é a própria União", explica o deputado, que fala ainda sobre a expectativa em torno da visita do presidente da França, Emmanuel Macron ao Brasil, em março, quando foram celebrados acordos entre os países. Ele afirma que, na verdade, houve um avanço e o Brasil mostrou que está disposto a manter a parceria com a França.
CORREIO DA MANHÃ - Uma das expectativas com relação a visita do presidente da França, Emmanuel Macron, no Brasil era justamente discutir os termos do empréstimo de 3 bilhões de euros da França para desenvolver as usinas de Angra 1 e Angra 3. O crédito iria remunerar as empresas francesas que trabalham com a Eletronuclear. A assinatura do acordo não aconteceu. Qual a posição do senhor, presidente da Frente Parlamentar Mista de Tecnologia e Energia Nuclear, sobre o assunto?
JÚLIO LOPES - Na realidade, não necessariamente, esse crédito precisa de um acordo entre os presidentes da República para acontecer. Isso é uma coisa usual do mundo inteiro. No caso, o banco que executa as ações de fomento na França é o ABI francês. Esse banco a qualquer momento está disposto a fazer o crédito para as empresas francesas que operaram na Eletronuclear, mais especificamente na obra de Angra 3. Então, não é que tenha sido uma perda efetiva. Era apenas um momento em que iria celebrar algo que pode ser feito a qualquer momento, posteriormente. Na realidade hoje isso só não pode ser feito porque a obra está momentaneamente interrompida por uma série de questões de gestão interna do no novo presidente Raul Lycurgo na Eletronuclear. Mais superado esse momento, o ABI tem todo o interesse de retomar as condições de financiamento para as suas empresas.
CORREIO DA MANHÃ- O acordo entre os países no que diz respeito a energia nuclear está avançando? Em que fase estaria as negociações?
JULIO LOPES - Na realidade nós fizemos um avanço. Não é que sem constar no acordo entre os dois presidentes, isso não pudesse ser feito posteriormente. Mas seria muito ruim que o presidente Macron, uma das maiores lideranças do mundo, empenhadas na retomada da área nuclear, e o Brasil, um país que tem uma tecnologia nuclear muito importante, que tem duas usinas em funcionamento, com 2% de sua matriz, que, apesar de ser pouca coisa, não é tão pequena em função do tamanho do Brasil na área nuclear, não fizesse menção a área nuclear nesse acordo. Então foi um sucesso a inclusão. Mostra a intenção de avançar junto com a França nessa área.
CORREIO DA MANHÃ - Existe a possibilidade de a França declinar do acordo? Se positivo, qual seria o outro plano para Angra 3?
JULIO LOPES - O Brasil pode, inclusive, acabar Angra 3 sem a França. Na realidade, a França é detentora de uma parte da tecnologia e algumas empresas francesas são contratantes importantes e o melhor para a obra, e para todos, é que as empresas francesas que já estão contratadas continuem o desenvolvimento do contrato e que nós continuemos a usar as empresas para melhor desempenho da obra. Mas não tem impedimento nenhum, mas gostamos da tecnologia e metodologia francesa. Faz todo sentido continuar nessa trajetória. Não se desfez acordo, pelo contrário: reafirmou o interesse de o Brasil continuar e isso envolve tecnologia de Angra 3, universidades, Marina e o Ministério da Defesa.
CORREIO DA MANHÃ - O deputado acredita na viabilidade de retomada das obras de Angra 3 mesmo com as dificuldades de investimentos tão altos?
JULIO LOPES - Não e tão difícil. Pelo Renuclear do Estado do Rio que abriria mão de uma parte do ICMS das obras e também o Renuclear federal que nós tratamos disso com o próprio ministro da Fazenda Fernando Haddad. A União federal abre mão de receber 5 bilhões que ela mesmo teria que pagar. Então é algo fácil de entender nesse contexto da obra de Angra 3. São quase 5 bilhões são de impostos federais que União iria cobrar dela mesmo. Porque quem financia a obra é ela e quem recolheria o imposto é a própria União. Então não faz sentido a cobrança desse pagamento. O que nós queremos é tirar esse valor da obra. E quando nós tiramos o custo o valor da tarifa da energia volta ao patamar dos 400 dólares, que é o internacional, e que dá viabilidade perfeita a Angra 3.