Por: Roberta Caulo

Itatiaia não tem Estação de Tratamento de Água

Penedo recebe centenas de turistas todos os meses | Foto: Divulgação

Roberta Caulo

Com uma população de aproximadamente 31 mil pessoas, de acordo com o Censo 2022, Itatiaia, cidade turística da região Sul Fluminense, não tem Estação de Tratamento de Água. De acordo com a prefeitura, a água distribuída na cidade é clorada periodicamente e a equipe da Secretaria de Obras e Serviços Públicos realiza de forma rotineira a limpeza das captações que distribuem água para a cidade. Moral da história, a população recebe uma água com forte cheiro de cloro e sujeiras que passam, pelo fato de não ter um tratamento mais minucioso.

Fazendo uma pesquisa rápida pela internet, é possível ver que a cidade possui um grande número de distribuidoras de água. Segundo a proprietária de umas delas, Sandra Reis, a distribuidora vende, em média, 50 a 60 galões de água (de 20 litros) por semana. "Vendo mais para bairros próximos a hospitais. O pessoal reclama muita da qualidade da água que recebe em casa". O dono de uma outra distribuidora, que preferiu não se identificar, disse que a venda de filtros também é alta.

Localizada em uma das regiões mais belas do Brasil, Itatiaia é um destino turístico muito procurado por pessoas de todo país. O município fica a apenas 180 Km de distância do Rio de Janeiro e 275 km de São Paulo. A cidade oferece muitos destinos de destaque nacional, entre eles o Parque Nacional do Itatiaia, Penedo e a região de Maringá e Maromba (região de Visconde de Mauá).

E, para receber tantos turistas, donos de pousadas e restaurantes precisam se adequar a realidade. A funcionária de uma pousada em Penedo, que preferiu não ser identificada, disse que o local tem um sistema de filtragem próprio. "Já que sempre ouvimos que a água não é tratada, preferimos investir nisso. Temos cinco filtros na pousada para oferecer uma qualidade de água melhor aos hospedes".

Claudineia Guimarães é moradora de Itatiaia e funcionária de uma pousada em Penedo. Segundo ela, a água que recebe em sua casa tem um cheiro forte de cloro. "Alguns dias mais que os outros". Ela explicou que para consumo, a água é comprada. "Já tivemos um hóspede que tomou água direto da torneira e passou mal, teve vômito e diarreia".

A funcionária de um conhecido restaurante de Penedo disse que também compram água por não terem como consumir a que chega da rua.

Saúde

Segundo o sanitarista, Raphael Andrade de Castro, que tem doutorado, em todo abastecimento público de água para consumo humano deve haver cuidados essenciais a serem tomados, desde a escolha do manancial, ou seja, a origem da água, até a chegada nas residências. "Comumente, utilizam-se como mananciais: os rios, riachos, represas e lagos, mas é possível utilizar água subterrânea ou até mesmo água da chuva. Tudo vai depender de cada localidade. Há de ser adotado cuidados especiais quando a origem da água para abastecimento público são de lagos ou represas, principalmente no que se refere a contaminação ambiental, seja diretamente por excrementos animais e humanos, ou através das chuvas que possam carregar estes ou outros resíduos contaminados ou tóxicos. Como proteção dessas áreas e seu perímetro ao redor, deve-se evitar atividades industriais ou humanas que possam gerar poluentes ou contaminantes, inclusive a criação de animais".

Segundo o professor Raphael, o método mais simples é a filtração lenta, seguido da desinfecção. Esse método é especialmente recomendado quando a qualidade da água in natura é previamente boa e, por características locais, o tratamento convencional apresente limitações para ser implantado. Portanto, é possível fornecer água potável a partir de processos mais simples, desde que essas características sejam mantidas com garantia de segurança para o consumo humano.

"Quanto a desinfecção, no Brasil, é majoritariamente feita com cloro. O cloro possui a capacidade de eliminar bactérias, como os coliformes fecais. Contudo, não é tão eficiente contra cistos de protozoários e ovos de vermes. O cloro reage facilmente com matéria de origem orgânica, devendo a água estar o mais livre possível desses compostos orgânicos. Se uma água chega barrenta na torneira de casa, é possível esperar que a ação do cloro foi comprometida e a água pode apresentar níveis microbiológicos inseguros. Por outro lado, tentar corrigir esta condição elevando os níveis de cloro pode ser um risco para a população, uma vez que o consumo elevado de cloro pode proporcionar intoxicações, lesões de pele, etc", explicou o sanitarista.

Portanto, doenças e agravos podem ocorrer em caso de consumo de água fora dos padrões de potabilidade. Doenças infecciosas veiculadas pela água são provocadas por espécies de bactérias, protozoários e vírus (como o da hepatite A). "Há também a possibilidade de transmissão de ovos ou larvas de vermes, levando ao surgimento de verminoses na população. Muitas doenças se manifestam por aparecimento de diarréias na população. Daí a grande importância sobre a qualidade da água que a população está consumindo, requerendo atenção de todos e investimento por parte do poder público no tratamento básico da água para consumo humano".

O sanitarista salienta que é de responsabilidade do poder público garantir todas as condições necessárias para que o abastecimento público de água potável seja feito sem prejuízos para a saúde da população.