Indenização das famílias do Contorno será debatida

Justiça fará audiência com as partes no dia 06 de dezembro

Por Wellington Daniel

Imóveis foram interditados devido ao risco provocado pela cratera

Por Wellington Daniel

A 1ª Vara Federal de Petrópolis marcou uma audiência de conciliação para o próximo dia 6 de dezembro em que será debatida a indenização das famílias da Comunidade do Contorno. Estes moradores foram afetados, de alguma forma, pela abertura de uma cratera às margens da BR-040, em 7 de novembro de 2017. O encontro acontece a partir da ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF), que pede uma indenização no valor total de R$ 9,5 milhões.

O dinheiro está bloqueado das contas da Concer, até que saia a decisão final da Justiça Federal. Em audiência pública na Câmara Municipal na última terça-feira (7), convocada por uma comissão especial presidida pela vereadora Júlia Casamasso (PSOL), moradores pediram o pagamento das indenizações, alegando que o valor total é apenas 3% do total arrecadado por pedágio da Concer. Em 2022, a concessionária teve uma receita operacional líquida de mais de R$ 270 milhões.

Moradores também levaram à audiência um histórico da comunidade do Contorno, com datas anteriores ao início da concessão, em 1996. Relataram ainda que, em 2014, ficaram assustados com as explosões das obras para a abertura do túnel e que, neste mesmo ano, especialistas apontaram a zona onde abriria a cratera como local de perigo.

Ao todo, 55 famílias foram afetadas pela abertura da cratera, com 70 metros de profundidade. Desde então, os moradores ganham um auxílio-aluguel de R$ 1 mil, pagos pela Concer. Não houve nenhum reajuste neste auxílio desde então. Na área, a concessionária fechou o buraco com pó de pedra, de modo a estabilizar o terreno.

"Nossa proposta é apresentar as narrativas da comunidade com as histórias, estudos e elaboração de documentações. Foram nove encontros na escola com a prática democrática no intuito de enfrentar um debate no campo político sobre políticas para o próximo contrato de concessão que leve em consideração o respeito e reconhecimento das comunidades localizadas ao longo da BR", explicou a representante da comunidade Angélica Domingas.

Na audiência pública da Câmara, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) deixou claro que a responsabilidade pela reconstrução do local é da Concer. A concessionária, no entanto, respondeu a quase todas as perguntas dizendo que esta é uma ação judicializada e, por isso, não poderia comentar.

O relatório da comissão especial, os documentos apresentados pelos moradores e a ata da audiência do Legislativo serão encaminhados ao MPF. A expectativa é que esse material ajude na audiência de conciliação do próximo dia 6.

Problemas ao longo da rodovia

O juiz federal Cesar Manuel Granda Pereira, que convocou a audiência da conciliação, também está com 45 processos referentes a demolição de casas em outros pontos da BR-040. Estas ações também devem ter uma nova audiência no dia 23 de novembro, ouvindo as comunidades afetadas.

Em agosto, a Justiça Federal realizou uma audiência com atores envolvidos nos casos das demolições. Fora os processos da 1ª Vara, há, ainda, outros 255 que debatem a faixa de domínio da rodovia. Há a expectativa que a nova concessão da BR-040 traga uma solução para a questão, seja com a redução da faixa ou a indenização das famílias.

Nova concessão

A esperança da nova concessão para as famílias atingidas pela cratera e também para aquelas com as casas ameaçadas de demolição tem sido acompanhada pelo Ministério Público Federal. Nesta semana, o MPF expediu recomendação para que sejam adotadas providências administrativas para a efetiva publicação do edital de leilão da concessão do trecho entre o Rio de Janeiro (RJ) e Juiz de Fora (JF).

O documento foi encaminhado ao diretor-geral da ANTT e à secretária nacional de Transporte Rodoviário do Ministério dos Transportes. O MPF pede um cronograma em até 30 dias sobre as etapas da licitação.

"A publicação do edital de leilão da BR-040, trecho Juiz de Fora/Petrópolis/Rio de Janeiro, bem como as obras da Nova Subida da Serra, que contemplam, dentre outros pontos, os serviços de ligação Bingen/Quitandinha, é uma demanda de toda a sociedade petropolitana e do Estado do Rio de Janeiro", frisou a procuradora da República Luciana Fernandes Portal Lima Gadelha, que assina o documento.

O Correio Petropolitano tentou contato com a ANTT e o Ministério dos Transportes. Até o fechamento, os órgãos não encaminharam um retorno.

A Concer disse ao Correio que investigações técnicas independentes, "conduzidas por alguns dos maiores especialistas do país", não estabeleceram vínculo entre a cratera, que teria 12 metros de profundidade, e o túnel, escavado a 70 metros de profundidade sob rocha sã. A área permanece sob monitoramento.

"Mesmo com o resultado das investigações técnicas, a empresa mantém em dia todos os compromissos assumidos por liberalidade com a comunidade do Contorno desde a data da ocorrência, entre eles, o pagamento do aluguel social e o fornecimento de cestas básicas e kits de higiene pessoal às famílias. Ressalte-se que o caso está judicializado", diz a nota.