Instituições de Petrópolis repudiaram o ato de racismo que aconteceu na manhã desta terça-feira (24), contra a jovem de 21 anos, Joice de Souza, em seu ambiente de trabalho. A jovem relata que foi atingida por cascas de banana e recebeu diversas ofensas racistas de uma passageira, enquanto exercia sua função de cobradora, a agressora foi levada para a 105ª Delegacia de Polícia de Petrópolis, no Retiro, onde foi presa em flagrante pelo o crime. O caso foi reportado pelo jornalista Carlos Miranda, repórter da InterTV afiliada da emissora Rede Globo.
Joice trabalha na empresa Turp, e contou ao Correio que no início do ataque cogitou em ficar quieta e seguir o trajeto do ônibus que fazia o trajeto de Itaipava para o centro da cidade. "No início, eu a ouvi falar: 'ou, você sabia que é feia, sua preta do cabelo duro', de primeiro momento cogitei em ficar quieta , e seguir viagem, mas as agressões se tornaram mais e mais difíceis de conter, até que eu caí em lágrimas. Na hora, os passageiros acharam que eu estava passando mal, respirei por um momento e contei o que estava acontecendo para o motorista, quando ele soube, foi direto para a delegacia". relata Joice de Souza. A jovem relembra que além das difamações proferidas contra ela em determinado momento a agressora a chamou de macaca e jogou cascas de banana em sua direção.
Joice de Souza fala do sentimento após o ocorrido. "Estou sem chão, destruída, parece que retiram um pedaço de mim, sinto muito a tamanha insignificância dessa situação, isso é o que mais me dói, não quero deixar que me calem", explica. O ato de racismo foi praticado por uma mulher de 58 anos, segundo o registro feito na delegacia, a mulher, ao ser questionada, desconversou sobre o assunto e forneceu os dados de identificação inverídicos para não ser identificada.
Instituições se manifestam
O Instituto Todos Juntos Ninguém Sozinho se manifestou em solidariedade à vítima. "Nós, como instituição que luta pelo reconhecimento e igualdade de direitos para pessoas pretas, não toleramos e jamais vamos deixar passar de forma impune, casos que legitimam a supremacia branca e inviabilizam o nosso lugar de fala. Como instituição que luta contra o racismo ambiental, por melhorias e oportunidades de renda para famílias em vulnerabilidade e principalmente mulheres pretas, acreditamos na lei que deve ser cumprida e punir de forma severa a agressora envolvida. Reforçamos aqui nosso repúdio e indignação a este ato, que acontece todos os dias, mas que por muitas vezes é invisível diante da sociedade, com diversas vítimas que são caladas e tem seus direitos e espaços invadidos, sendo desrespeitadas."
O movimento antirracista da União da Juventude Socialista (UJS) também repudiou o ato. Em nota publicada nas redes socias, "Casos de racismo em Petrópolis vem ocorrendo de forma constante, e é necessário lutarmos contra o racismo, a injuria racial e por uma cidade totalmente antirracista. Reforçamos ainda que só teremos uma sociedade que caminhe em contramão ao racismo, quando investirmos em uma educação igualitária, crítica e antirracista."
A Prefeitura, por meio da Coordenadoria de Igualdade Racial (Compir), informou que está acompanhando o caso e já oficiou a empresa de ônibus solicitando o contato da funcionária para que seja oferecido o suporte jurídico e psicológico para a vítima. "Nos solidarizamos com a vítima, dando todo suporte necessário. A Coordenadoria segue ampliando, reivindicado e assegurando o reconhecimento histórico do nosso povo negro. Nenhum direito a menos", disse o coordenador da Compir, Filipe Graciano. O Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários de Petrópolis (Setranspetro) e o sindicato dos rodoviários também repudiaram o ato.
A Compir ressalta que possui um Disque Antirracista (0800-024-1000) onde a vítima pode relatar o caso e receber atendimento feito pelo Núcleo de Atendimento Antirracista, prestando serviços psicológico, assistencial e jurídico para a população negra.
É importante ressaltar que o código penal dita que praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, resulta em pena de reclusão de 1 a 3 anos e multa.
*Estagiária