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Sobrecarga para o rodoviário

A dupla função é criticada especialmente pela sobrecarga que gera ao rodoviário | Foto: Marlus Renato

Por Wellington Daniel

Das 213 linhas de ônibus municipais de Petrópolis, 170 podem operar sem cobrador, o que corresponde a quase 80% do total. É o que apontam dados da Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans), obtidos pelo grupo Correio da Manhã. Estas rotas estão em desequilíbrio econômico-financeiro e, segundo a resolução 02/2018 da Companhia, podem ter o motorista atuando em dupla função.

Os dados foram obtidos via Lei de Acesso à Informação, já que, por diversas vezes, foi solicitado à Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Petrópolis, que também responde pela CPTrans, mas esta não retornou os pedidos. O vereador Hingo Hammes, presidente da Comissão de Transportes e Mobilidade Urbana da Câmara Municipal, discorda dos dados apresentados pela Companhia.

"Não acredito que tenha esse percentual todo de linhas com desequilíbrio econômico. Lutamos muito pela questão da planilha que é muito controversa, a gente não consegue comprovar muita coisa, é obscuro. Não concordo com esse número e muito menos que retire o cobrador", disse Hammes.

Nas ruas, a população também reclama da retirada dos profissionais. "O cobrador não está ali só para cobrar passagem. Ele ajuda o motorista a manobrar em bairros que têm crianças brincando nas ruas ou carros estacionados de forma irregular", afirmou o morador do Quitandinha, Kaíque Rodrigues, de 22 anos.

A equipe do Correio também flagrou três ônibus, que não estão na listagem de desequilíbrio econômico-financeiro, circulando sem cobrador. Os coletivos que operam as linhas 106 - Bataillard, 110 - Duarte da Silveira e 404 - Duques sequer possuíam o espaço para o profissional.

Já as principais linhas da cidade, como a 100 - Rodoviária Bingen e a 700 - Terminal Itaipava, estão operando sem cobrador aos domingos. Quanto a isso, a superintendente do Sindicato das Empresas de Ônibus (Setranspetro), Carla Rivetti, disse que as empresas concedem folga aos profissionais nestes dias.

"A gente precisa dar folga para esses profissionais uma vez por semana, por lei trabalhista. Como a demanda cai muito no domingo, tem menos pessoas circulando no transporte, foi uma oportunidade", explicou.

Uma das justificativas para o reajuste da passagem foi em relação a um possível aumento no número de cobradores, apontado na comparação entre as planilhas de 2022 e 2023. O Setranspetro explica que foi o cálculo. "A gente pegou o fator de utilização, que é a quantidade de profissionais que tem que ser destinada a cada ônibus e aplicou o salário corrigido", disse Rivetti.

Para Rivetti, é necessário pensar em formas de custear o transporte público, como o vale-educação, um subsídio pago pela Prefeitura para cobrir as gratuidades dos estudantes. Segundo ela, a crise das empresas se arrasta desde a pandemia, com uma queda ainda não recuperada da demanda de passageiros.

"Os empresários de ônibus e o setor sabem que aumentar a passagem não é a solução, porque vamos simplesmente onerar quem paga a tarifa. Precisamos discutir verbas e receitas, que não sejam apenas as arrecadadas pelas pessoas que andam de ônibus e subsídios para todas as gratuidades", afirmou.

Ainda de acordo com o Setranspetro, os cobradores estão sendo realocados. O Sindicato dos Rodoviários também diz que não houve demissões em massa. No entanto, o Correio Petropolitano, mostrou que 560 funcionários foram demitidos desde 2020 pelas empresas de ônibus, em Petrópolis.

O Correio também procurou a CPTrans e pediu uma entrevista com o diretor-presidente, Thiago Damaceno, mas não obteve resposta até o fechamento.