Artista plástico petropolitanotem obras expostas na Serra e Capital
As artes plásticas transformam matérias em imagens dando sentido artístico, que revelam a poética e a concepção de tempo e memória de cada artista. Para criar uma obra é necessário pensar no contexto, social, político e religioso levando em consideração a subjetividade de cada criador. Considerando estes aspectos o artista plástico Pedro Ivo Cipriano, traz em suas construções politizadas, sua religião, ancestralidade e toda cultura dos povos africanos.
"Meu trabalho parte de um pensamento da gira. A gira se apresenta como espaço poético-político de cidadania, de liberdade para ser quem se é, e poder ser em relação. Logo a gira vai ao encontro de uma educação antirracista atrelada aos direitos humanos que têm como dever reiterar a existência de todos e apontar instâncias de mundo possíveis", elucida o artista sobre o contexto de suas obras.
Ivo Cipriano é artista plástico, escritor, e pesquisador da africanidade, produz suas obras com temas afro-centralizados. O artista já circulou o Brasil com seus trabalhos. Cipriano foi um dos brasileiros a serem selecionados para expor sua arte na 31º Exposição do Centro Cultural de São Paulo (CCSP).
Atualmente suas obras estão em cartaz na exposição coletiva "Um oceano para lavar as mãos", sediada na cidade de Petrópolis no Centro Cultural SESC Quitandinha - a mostra ficará exposta até o mês de agosto. Neste, Cipriano apresenta a série "Macumba Pictórica", que conta a história de resistência e força dos povos africanos. "O que chamo de Macumba Pictórica é essa relação entre o fazer artístico e o pensamento ancestral", explicou o artista. As obras que compõem a exposição seguem a linha de apresentar a diversidade da cultura negra na diáspora negra no Brasil.
Cipriano também estreia no dia 20 de maio na Exposição "Navegar É Preciso - Paisagens Fluminenses", na Casa França-Brasil, no centro do Rio de Janeiro, com a série "O Caçador na beira do Caminho - Uma poética". O trabalho nasceu simultaneamente com as obras da Macumba Pictórica. A exposição tem o intuito de traçar um amplo panorama da riqueza cultural do Rio para além da capital, e propõe que haja um amplo olhar para a importância do estado como centro de produção artística e cultural no Brasil.
O artista descreve como funciona o processo anterior a construção, produção de seus artefatos, e os significados dos materiais escolhidos para utilização. "O ponto cantado se faz ponto riscado ao passo que os escritos surgem como processos artísticos enunciados na proposta de escripinturas que me interessam acerca da simbologia do material e da forma de fazer que se somam ao conceito empregado neles dos próprios materiais utilizados: o pó xadrez preto, a cal, o carvão vegetal, a pemba, que possuem uma carga simbólica forte. O carvão vegetal é muito utilizado para os desenhos artísticos, conhecido como sangue preto nos terreiros, e se desemboca na ideia de desenhar, de riscar, que muito me interessa, um desenho primeiro das coisas. A pemba, o sangue branco nos terreiros, que nos lembra o invisível das coisas, a instância do "espiritual das coisas". A horizontalidade que o desenho pede provoca um gesto sobre o suporte, que remete à reverência que os caboclos e pretos-velhos fazem para realizarem suas escritas de força - pontos riscados, desenhos recados - no terreiro ao se desenhar sobre o chão e não sobre a mesa. O carvão também pode servir de comparação ao negro na sociedade, que risca o tempo-espaço e aponta possibilidades se inscreve no mundo. A tinta cal transforma o branco do tecido, que apresenta um tingimento do próprio branco em linhas brancas, manchas brancas movimentadas, e ao mesmo tempo, não cobre toda a superfície", descreve o artista, apontando o estudo envolvido nos processos criativos.
Ivo Cipriano traz em sua essência a ancestralidade, procura retratar o povo africano em cada montagem, seu objetivo é expandir a cultura africana em todos os espaços possíveis, levando referencias linguísticas do povo negro. O artista traz a própria ideia de desenho subordinado ao tempo a ser riscado, esperando servir de base para uma história que ainda não foi escrita, contada e declamada.
"Penso em uma arte afrodescendente que tem um traço-afro-artístico - traço afro contínuo poético-político ancestral, para fazer um desenho-pensamento ou um pensamento-desenho afro que dão pistas para pensar maneiras de lidar com as identidades negras no Brasil", reforça Cipriano.
*Estagiária
