10 de junho - Dia de Camões

Por Rosina Bezerra de Mello*

Luís Vaz de Camões (1524/25? - 10/06/1580) é sempre lembrado e homenageado como o maior poeta português e o responsável pela consolidação da Língua Portuguesa moderna. Sua biografia oscila entre fatos reis documentados e lendários, por ausência de comprovação. Sabemos que o poeta nasceu pobre, filho de pequena nobreza (fidalgo) e morreu quase miserável, solitário. Camões teria nascido em Lisboa por volta de 1524/25? Viveu algum tempo em Coimbra onde possivelmente frequentou aulas de Humanidades (curso superior), no Mosteiro de Santa Cruz, em que residia um tio padre. Tal fato explicaria a ampla e profunda cultura do poeta. Com pouco mais de vinte anos (1549), perdeu o olho direito em Ceuta (Marrocos), onde servia como soldado raso. Regressou a Lisboa, levando aí uma vida boêmia, muito agitada. Em 1552, envolveu-se em uma briga, ferindo um servidor do paço, foi preso, em 1553, é desterrado para o Oriente. Durante três anos prestou serviço militar na Índia, na cidade de Goa. Acredita-se que ali escreveu parte de sua obra épica Os Lusíadas, seguindo depois para Macau (China). Nadando com apenas um braço, teria salvado o manuscrito de seu poema épico. Regressou a Portugal em 1569, pobre e doente, conseguindo publicar Os Lusíadas em 1572, graças à influência de alguns amigos junto do rei D. Sebastião. Faleceu em Lisboa no dia 10 de Junho de 1580. Obras: Os Lusíadas (1572), El-Rei Seleuco (1587), Auto de Filodemo (1587) e Anfitriões (1587), Rimas (1595). Neste artigo, falarei sobre a genialidade de sua obra épica, com base na obra do Prof. Dr. Leodegário A. de Azevedo Filho, brasileiro e referência mundial nos estudos camonianos.

No século XVI coexistiam duas correntes literárias predominantes na Europa. Uma corrente de vertente espanhola tendia ao trovadorismo, às canções de cavalaria, à lírica em redondilha, ao teatro vicentino. A outra apontava para a Itália renascentista de influência greco-romana, em que predominavam a eloquência de Cícero na prosa, o uso dos versos decassílabos na lírica, o teatro aos moldes gregos clássicos e a busca pela arquitetura literária greco-latina (epopeia, elegia, canção e soneto). Camões bebeu e escreveu em ambas as fontes e parâmetros.

Sua melhor produção clássica foi "Os Lusíadas", obra épica de elevada importância histórica, significativa expressividade, complexidade estrutural, erudição mitológica e fluência retórico-poética. Utilizando como modelo as epopeias gregas de Homero, Ilíada e Odisseia, Camões foi primoroso ao aprimorar a forma, lapidou os versos com destreza, alegorizando e resgatando os léxicos da Língua Latina com maestria.

A obra "Os Lusíadas" (publicada em 1572) é composta por dez cantos (simbolizando perfeição), dividido em Proposição, Invocação, Dedicatória e Narrativa. Distribuídos em 1.102 estrofes (oito versos cada) e 8.846 versos, quase todos heroicos. Apresenta em seu corpo duas narrativas: uma mitológica, outra histórica. A primeira é marcada pelos dois Concílios de Deuses e pelo episódio da Sedução de Vênus. A segunda, apresentada em sete eventos da história portuguesa: Salado; Inês de Castro; Aljubarrota; Velho do Restelo; o Gigante Adamastor; Doze da Inglaterra; e, São Tomé. O poema tem por objetivo celebrar e enaltecer os feitos e a coragem lusitanos nas navegações e conquistas; pede inspiração às ninfas do Tejo e dedica a obra ao Rei D. Sebastião. A narrativa descreve a geografia, a História, as guerras, as derrotas e vitórias de Portugal, misturando ficção (mitos) e realidade, além de homenagear os grandes navegadores portugueses, como Vasco da Gama. As questões sociais surgem, principalmente, nas reflexões sobre Inês de Castro, do Velho do Restelo e do Gigante Adamastor.

Na sua poesia lírica, Camões foi igualmente genial. As duas vertentes literárias, já citadas, fizeram-se presentes em sua obra lírica. No entanto, a poesia renascentista clássica na forma de soneto petrarquiano e com temática muitas vezes platônica, tem em Camões, o grande e insuperável mestre, enriquecendo as letras lusitanas. Seu soneto é incomparável na técnica superior, no domínio perfeito do vernáculo, na preciosa escolha dos temas, na sensibilidade das imagens criadas. Em suas próprias palavras, foram aplicados "engenho e arte" na construção de verdadeiras joias literárias.

Humanista notável, Camões conseguiu expressar a experiência vivida na guerra e no exílio, na prisão e na miséria, no amor e no abandono, na presença e na saudade. Sua poesia demonstra a meditação profunda sobre a realidade, à luz de uma sólida formação teórica. A lírica camoniana explora a dúvida existencial, o desconcerto do mundo, a inquietude entre a carne e o espírito, as contradições do amor, (ora idealizado, ora carnal), revelando sua natureza inquieta e pronto para ir além e antecipar; prever e meditar; inovar e surpreender.

Nos sonetos, Camões explora a alma humana como quem vasculha e desvela as emoções mais ocultas. Um de seus sonetos mais famosos narra a história de Jacó que trabalhou durante anos para Labão por amor a Raquel. Outro, cantado até hoje, mostra o paradoxo do amor que "é fogo que arde sem se ver...", também tem consciência da transitoriedade da vida descrita em seus versos, como "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,...", versos citandos apenas para exemplificar a atualidade de sua obra com mais de quatrocentos anos de publicação.

Não foi por acaso que o povo português criou o "Dia de Camões" em referência à data da sua suposta morte e, atualmente, nesta mesma festa são celebrados o "Dia de Portugal", o dia dedicado ao "Anjo Custódio de Portugal". Este é também o dia da Língua Portuguesa, dos cidadãos e das Forças Armadas Portuguesas.

Em tempo, todos devemos ler as grandes obras produzidas pela cultura ocidental ao longo do tempo. Há uma edição em português de "Os Lusíadas para crianças" de autoria de Leonoreta Leitão. Aproveite!

*Doutora em estudos literários e professora