Por: Yuri Eiras (Folhapress)

Região Serrana do RJ enfrenta desafios 13 anos após tragédia por chuvas

Registros da maior tragédia socioambiental da Região Serrana | Foto: Arquivo/Agência Brasil

Sete municípios da região serrana do Rio de Janeiro sofreram, na madrugada do dia 12 de janeiro de 2011, uma das maiores tragédias ocasionada por chuvas da história do Brasil. Foram 918 mortos e mais de 300 desaparecidos, segundo cálculos das prefeituras. Automóveis foram parar em telhados, casas desceram ladeiras, empurradas pela lama.

Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis, as cidades mais afetadas, ainda enfrentam desafios 13 anos depois. A última teve ainda um segundo desafio: em 2022, uma outra chuva forte destruiu parte do município e causou a morte de 235 pessoas.

Nas cidades serranas, as defesas civis ganharam corpo e mais capacitação, e novos sistemas de alarme e alerta para chuvas fortes foram desenvolvidos, como o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), órgão federal criado após o desastre de 2011.

Por outro lado, obras importantes de contenção de encostas ainda não foram concluídas, e parte da população resiste em deixar os imóveis construídos em locais vulneráveis.

Rubens Bomtempo (PSB), prefeito de Petrópolis, afirma ter retirado 240 famílias que viviam em uma área de risco no morro da Oficina, local mais afetado pelas chuvas de 2022, com pagamento de indenização. "A maioria das pessoas quer sair, mas precisa de outra opção."

"Paguei, as famílias saíram e a gente demoliu para fazer uma barreira. Não houve grita quase nenhuma porque fizemos uma compensação justa, mas para isso é preciso dinheiro. Consegui um empréstimo na Caixa Econômica. Não posso ficar esperando ajuda eterna dos governos estadual e federal", diz.

Wellington Silveira, morador de Petrópolis, perdeu a casa em que morava durante o temporal de 2022. Ele é presidente da associação de moradores do bairro Floresta e atua no diálogo com a população local. "A cidade está um pouco mais respeitosa com as mudanças climáticas, mas um tanto ainda com receio", diz.

Afetada pelas chuvas de 2011, Teresópolis inscreveu no ano passado duas localidades no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que destina recursos às obras em encostas. A Defesa Civil do município tem preocupação com o bairro São Pedro, um dos mais adensados de uma cidade em que ruas foram abertas em serra íngreme.

Secretário da Defesa Civil de Teresópolis, o coronel Albert Andrade diz que a cidade enfrenta dois desafios: a falta de recursos para investimento em prevenção e a resistência das famílias em deixarem as áreas de risco.

No ano passado, uma pesquisa da secretaria em comunidades da cidade apontou que 85% das pessoas confiavam na credibilidade da Defesa Civil e diziam ouvir as sirenes nos dias de chuva, mas não saíram de casa por não acreditarem na possibilidade de uma nova tragédia.

"A memória de 2011 já está distante. Elas pensam: da última vez tocou a sirene e não aconteceu nada, então vou ficar. Há ainda o medo de saqueadores, como acontece no Rio Grande do Sul."

Em parceria com uma empresa privada de tecnologia, Teresópolis pretende utilizar, até o início do próximo verão, uma ferramenta de inteligência artificial que cruza informações de órgãos de meteorologia com o mapa da cidade e prevê as áreas mais afetadas pelas chuvas dentro do município.

Testada na última grande chuva, em janeiro, a ferramenta acertou. Horas antes do temporal, carros de som da prefeitura avisaram à população, que se convenceu antecipadamente a deixar as casas.

Especialista em políticas públicas e gestão governamental, Amarílis Busch Tavares estudou a tragédia da região serrana em 2011 e apontou problemas de comunicação dos órgãos em relação à gravidade dos alertas emitidos. Tavares avaliou ainda falhas na resposta para mitigação e na reabilitação e recuperação das áreas afetadas.

"A lição que ainda deve ser aprendida pelos políticos é que o barato muitas vezes sai caro: investir em medidas preventivas é uma opção de política pública muito mais eficiente e efetiva do que atuar no momento da ocorrência do desastre", afirma.

Geógrafos explicam que o desastre da região serrana em 2011 ocorreu porque chuvas fortes se acumulavam desde dezembro de 2010. A chuva intensa de janeiro caiu sobre um solo já encharcado, o que causou escorregamento de encostas. A massa de terra que desceu a serra obstruiu os rios, que inundaram e carregaram solo e vegetação, destruindo as casas.

No Rio Grande do Sul, a chuva causou grande vazão dos rios que convergem para o lago Guaíba, e este, inundado, subiu de nível e atingiu as áreas planas da região metropolitana de Porto Alegre.

"A geografia consegue propor ações de prevenção e de mitigação, que levem em consideração a vulnerabilidade das populações e quão suscetíveis estão os bairros e cidades aos fenômenos naturais. Mas precisa haver vontade política de autoridades em investir verbas para isso", afirma a professora Carla Maciel Salgado, do departamento de Geografia da UFF (Universidade Federal Fluminense).

 

Mais de 16 mil casas em Petrópolis estão localizadas em áreas de risco muito alto para deslizamentos

Tragédia das chuvas em Petrópolis em 2022 | Foto: TV Brasil

Por Yasmim Grijó

Um relatório elaborado pela Casa Fluminense, uma organização da sociedade civil dedicada à política e ações públicas na região metropolitana do Rio de Janeiro, divulgou uma análise abrangente da crise climática, com base nos dados do Censo Demográfico de 2022.

De acordo com o estudo, Petrópolis, com 278 mil habitantes, se destaca entre os 22 municípios pesquisados, por apresentar um percentual consideravelmente maior de 12,3% de casas localizadas em áreas de alto risco de deslizamentos, totalizando 16.977 residências.

Além disso, as inundações representam outra realidade desafiadora para a cidade. Das residências recenseadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 10.075 estão situadas em áreas com alto risco de inundações em Petrópolis. Considerando todas as 22 cidades pesquisadas, cerca de 20% das residências, o que equivale a pouco mais de 1,1 milhão de domicílios, enfrentam essa mesma situação.

Vale destacar que nesse relatório foram examinados os relatórios de desastres ambientais comunicados à Defesa Civil nacional pelos municípios e pelo estado do Rio de Janeiro nos últimos quatro anos, de 2020 a 2023. Esses dados são compartilhados em casos de emergência que demandam intervenção federal, proporcionando informações sobre a magnitude do desastre, incluindo o número de pessoas afetadas, residências e infra estruturas impactadas.

Desastres ambientais

Dentro do estudo, foram analisados os registros de desastres ambientais comunicados à Defesa Civil nacional pelos municípios e pelo estado do Rio de Janeiro nos últimos quatro anos, de 2020 a 2023.

Esses dados são comunicados quando a situação de emergência demanda intervenção federal, abrangendo informações sobre o desastre, como número de afetados, residências e infra estruturas impactadas. A entidade ressalta que nem todos os eventos climáticos são registrados nessa base de dados, mas ela fornece uma visão essencial para compreender a complexidade e a magnitude do problema nos territórios. As ocorrências consideradas incluem alagamentos, ciclones, deslizamentos, enxurradas, frente frias/zonas de convergência, inundações e tempestades locais/convectivas.

Afetados por eventos climáticos

O Rio de Janeiro, devido à sua maior extensão territorial e população, abriga a maior parte dessas casas, com aproximadamente 40%, seguido por Duque de Caxias, com 15%; São Gonçalo, com 8%; e Magé, com 7%. Isso significa que um em cada cinco domicílios particulares na metrópole está em áreas com alto risco de inundações, enquanto um em cada 100 está em áreas com alto risco de deslizamentos de terra.

Quanto à infraestrutura pública afetada, como instalações de saúde, educação, comunitárias e outros serviços, o relatório identificou 737 danos e seis destruições, totalizando um prejuízo estimado em R$ 472 milhões no estado. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, foram registrados 296 casos de infraestrutura pública danificada e uma destruída, totalizando cerca de R$ 140 milhões em prejuízos.

Casa Fluminense

A Casa Fluminense trabalha com a produção de narrativas e dados que evidenciam as desigualdades sociais na metrópole, com ênfase nas questões de raça e gênero. No contexto mais amplo da Justiça Climática, a organização também aborda o conceito de racismo ambiental, destacando a exposição desigual de certas populações aos riscos socioambientais, influenciada pela localização geográfica e características sociopolíticas, econômicas e ambientais de determinadas regiões.