Por: Gabriel Rattes e Yasmim Grijó

Polícia investiga possível caso de assédio na Inter TV

Polícia instaura inquérito para apurar possível caso de assédio cometido por jornalista | Foto: Reprodução/Inter TV

Por Gabriel Rattes e Yasmim Grijó

A Polícia Civil do Rio de Janeiro instaurou nesta última semana um inquérito civil para apurar um possível caso de assédio moral e sexual dentro das dependências da Inter TV, afiliada da Rede Globo em Cabo Frio. Uma carta escrita por quatro mulheres afirma que o jornalista Alexandre Kapiche, ex-apresentador do RJ 1º edição, constrangeu, humilhou, atacou e assediou profissionais que passaram pela empresa.

De acordo com a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Cabo Frio, a investigação segue em andamento. "Os agentes estão em diligências em buscas de supostas vítimas e de testemunhas para serem ouvidas e apresentarem mais informações, visando ao esclarecimento de todos os fatos", informou a Polícia Civil.

O caso veio à tona após uma das vítimas apresentar à direção da Inter TV um vídeo em que mostra um suposto caso de abuso cometido pelo ex-apresentador. Após a divulgação, no final do mês de abril, Alexandre Kapiche foi desligado da empresa.

Quatro mulheres que afirmam terem sido vítimas divulgaram uma carta de repúdio e denúncia. O Correio ainda apurou com uma fonte extraoficial que detalhou o comportamento do jornalista.

Carta à imprensa

Uma carta foi redigida por quatro mulheres e entregue à imprensa. A equipe do Correio teve acesso à íntegra do texto, em um trecho são explicadas as ações supostamente praticadas pelo jornalista. "Kapiche dava 'beijos molhados', esbarrava com suas mãos em partes íntimas e sempre buscava abraçar ou encostar em colegas de trabalho, essas quando reagiam negativamente a suas investidas, eram maltratadas e tinham sua capacidade profissional diminuída por Kapiche, sempre com apoio de Rolf", diz a carta.

Rolf Danziger é o diretor da Inter TV que, segundo a carta, era conivente com os crimes cometidos. "Importante fato, toda essa sensação de desmandos e abusos começaram a se tornar 'normais' após a saída de Cris Armond e a chegada do novo diretor Rolf Danziger, parceiro fiel e ciente dos diversos ataques e covardias recorrentes de Kapiche. Citamos mais uma vez a importância de observar a quantidade imensa de profissionais que se desligaram da InterTV pelo mesmo motivo", destaca.

A carta ainda destaca que, com a recorrência dos ataques, profissionais da Inter TV começaram a se mobilizar para dar um fim aos abusos. "Logo no primeiro dia, há a filmagem de um gesto nojento e covarde que tanto se repetia, dessa vez com uma jornalista casada e mãe, que indignada, levou a reclamação não ao diretor Rolf, mas a superiores da empresa", diz a carta.

"Sua última vítima na emissora, com posse do vídeo que comprova o assédio, exigiu a demissão de Kapiche, a jornalista levou a denúncia para a empresa. A vítima, traumatizada, fez um emocionante relato para sua família, o que levou seu marido a ir até a sede da emissora, enfurecido, para encontrar com Kapiche, que de modo covarde, se escondeu na sala de Rolf Danzinger", completa, a carta afirma ainda que, caso se Kapiche desminta o que foi dito no texto, os vídeos que comprovam os atos que geraram a demissão do apresentador, serão divulgados à imprensa.

Seis anos na empresa

Uma fonte extraoficial disse ao Correio que o suspeito foi promovido a chefe de redação em dezembro de 2023. Era o segundo cargo mais alto dentro da afiliada, abaixo somente de Rolf. Kapiche era responsável por chefiar editores, editores-chefes, produtores, entre outros.

"Ele foi promovido para um cargo de chefia. E aí as coisas foram piorando um pouco e as pessoas foram se sentindo um pouco mais constrangidas até de cortar as 'brincadeiras', como Kapiche chamava os atos. Tinha uma outra menina com quem ele também fazia algumas coisas assim, de beijo no pescoço, de ficar apertando a cintura, de ficar abraçando por trás na mesa", afirmou.

Ainda de acordo com essa fonte, após a primeira denúncia solicitando as imagens das câmeras de monitoramento, mais vítimas foram aparecendo. "Algumas ex-funcionárias deixaram claro que passaram por isso e que gostariam de falar. Outros funcionários que sofreram assédio moral e que também denunciariam. Então a situação foi saindo do controle. Tem relato de repórteres de outras praças, que falaram que também já passaram por esses abraços constantes, por trás, dessas 'brincadeiras' de agarrar".

A situação se agravou quando ele assumiu o cargo de chefia, assim, os assédios se tornaram mais frequentes. "Eu acho que ele se viu em uma posição muito confortável, de muita impunidade, porque acima dele só tinham homens", finalizou.

Entramos em contato com Alexandre Kapiche e Rolf Danzinger, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta edição. Procurada, a Rede Globo não nos respondeu, tal como a Inter TV.