Por: Gabriel Rattes

Familiares querem se mudar do Independência após desastres

Deslizamento na Cacilda Becker no Independência | Foto: Gabriel Rattes

"Tristeza. Muito triste. Ver onde meu filho morreu, não quero vir mais aqui. Somente para resgatar documentos e depois vou embora. Meu filho era minha 'glória'. Filho único", essas são as palavras de Roberto Napoleão da Silva após retornar ao local onde ocorreu o deslizamento de terras, na Rua Cacilda Becker, no bairro Independência, em Petrópolis. A ocorrência, ocasionada pelas chuvas desta última sexta-feira (22), deixou um rastro de destruição e mortes, dentre elas, a de Douglas José de Souza da Silva, de 24 anos, filho de Roberto. No mesmo local também foram encontrados os corpos de Beatriz da Silva Lima, de 25 anos, Maria Lúcia Casemiro Lima, de 66 anos e Lukas Willian da Silva Lima Justino, de 9 anos.

Petrópolis foi a cidade da Região Serrana com o maior acumulado de chuvas. Nas 96 horas - entre a quinta-feira (21) e domingo (24) - registradas pela Secretaria de Defesa Civil, choveu 338.6mm no Independência, superando a expectativa para todo o mês de março (250mm).

Nesta segunda-feira (25), a equipe do Correio Petropolitano foi até o local para entender a situação dos familiares e vizinhos. O deslizamento de terra que afetou cerca de cinco residências, atingiu diversas pessoas, algumas ficaram soterradas sob os escombros. Esse é o caso do Fabiano Lima, que ficou debaixo da lama por quase uma hora. "A única coisa que eu lembro é um barulho muito alto, logo em seguida o impacto. Quando eu percebi já estava no escuro, cheio de lama, terra, laje, vergalhão em cima de mim e todo mundo gritando e pedindo ajuda. Foi uma cena horrível. Naquela hora eu só pedia a Deus para sair todo mundo vivo e com saúde", contou.

Fabiano perdeu a mãe, Maria Lúcia, a filha, Beatriz da Silva, o neto, Lukas Willian e o genro, Douglas José. Em entrevista ao jornal, afirmou que não deseja mais morar no local e está em busca de um recomeço. "Não tem como ficar mais aqui. Essas casas estão todas condenadas, todo mundo indo embora, ninguém quer ficar mais. Agora é erguer a cabeça e conseguir um outro lugar para ficar. É uma cena horrível, uma dor muito grande perder quatro familiares de uma vez só. Coisa que eu só via pela televisão, nunca imaginei que isso poderia acontecer comigo", disse Fabiano Lima.

Resgate

A outra neta de Fabiano, Aylla, de apenas quatro anos, também estava soterrada. A criança foi encontrada ainda com vida, após cerca de 16 horas sob os escombros com a ajuda de cães farejadores do canil do Corpo de Bombeiros RJ, que indicaram o ponto exato onde as buscas deveriam ser realizadas. "Meu filho salvou minha netinha. Ele ficou embaixo dela, socorrendo-a. Ele foi, mas deixou ela", enfatizou Roberto da Silva, pai de Douglas, explicando que a neta está bem, mas segue em supervisão no Hospital Santa Teresa. Quanto à guarda da criança, não tem nada definido ainda. "Estamos avaliando. O que for melhor para ela, vai ser", finalizou.

Vizinhança

Lívia Dias de Matos, de 17 anos, mora ao lado das residências que desmoronaram e estava em casa na hora do ocorrido. "Ouvi um barulho de algo estralando, quando eu fui olhar pela janela, eu vi caindo tudo. O povo me pedindo socorro, mas eu não consegui fazer nada pois fiquei sem reação e desmaiei na hora", explicou. "É uma tristeza perder a casa de uma hora para outra, eu cresci aqui. Ter que morar em outras casas e não saber para onde ir", enfatizou.

 

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