O Rio Grande do Sul (RS) registrou elevados índices pluviométricos nessas últimas semanas. A chuva que começou no dia 30 de abril, levou ao que seria a maior tragédia do estado. Até esta última quarta-feira (08), 107 mortes foram registradas e 136 pessoas continuam desaparecidas. De acordo com a Defesa Civil do Estado, 425 municípios foram afetados, o equivalente a 85,5% do território. Mais de 67 mil pessoas estão em abrigos e são mais de 164 mil desalojados.
Eliane Maciel era moradora de Petrópolis e se mudou com o marido e filhos em 2022, para a cidade de Canoas, região metropolitana de Porto Alegre. A casa dela, localizada no bairro Fátima ficou completamente alagada. Em 2022, a família já havia sido levemente afetada pela tragédia de Petrópolis. Agora, buscam recursos para recomeçarem a vida.
“É difícil a gente passar por um momento desse, a cabeça ainda está pensando muitas coisas. Estamos esperando para ver dimensão do estrago, rever a nossa casa também. Verificar o que vamos fazer. Estar aqui junto com nossos filhos e tomar uma decisão. O momento ainda é de intranquilidade. Ainda tem proporções de muita chuva aqui pro Rio Grande do Sul e a gente ainda não sabe como é que vai ficar”, enfatizou Vicente Maciel, marido de Eliane.
Eliane, Vicente e os filhos, Vivane (20 anos) e Vicente Neto (17 anos), ficaram em torno de 15 horas aguardando o resgate, que foi realizado pela Marinha do Brasil. Eles precisaram caminhar por telhados para sair do local e hoje estão abrigados na casa de amigos na cidade de Cachoeirinha. No local, também foram resgatados dois cachorros de estimação da família.
“É difícil até para nós manter essa calma. A gente tem tentado ao máximo fazer que isso aconteça com eles, mostrando uma serenidade. Minha esposa é psicanalista e eu sou terapeuta. A gente tem tentado, dentro do conhecimento que nós recebemos, acalmar eles. Mas o meu filho ficou bastante abalado, quando se fala em chuva, já vem a sensação de que vai encher e vai presenciar a mesma situação novamente”, explica Vicente.
Antes de ir para a casa de amigos, a família permaneceu em um abrigo temporário da Defesa Civil. “Era um caos. Helicópteros subindo e descendo a todo momento. As pessoas andando desnorteadas. As equipes oficiais [Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Exército, entre outros] todos se mobilizando, assim como os civis, para ajudar. Muito triste o que nós vimos, a angústia, o desespero, a dor das famílias esperando por notícias. Para mim, a imagem que marcou na minha mente foi ter saído daquele lugar, mas vendo muitas pessoas em cima dos telhados, penduradas nas janelas, à espera de um resgate. Essa imagem ficou muito forte na minha mente”, disse Eliane.
Mesmo em meio ao desastre, a família afirma estar ajudando em uma igreja próxima, que está abrigando cerca de 103 pessoas. “A família está unida. Hoje nós estamos ajudando uma igreja próxima que está abrigando 103 pessoas sem ter para onde ir. Isso também para nós é uma terapia, estarmos ajudando outras pessoas que necessitam”, afirmou Eliane.
Em 2022, enquanto ainda moravam na cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, a família também foi afetada por uma enchente. “Mesmo em Petrópolis nós ajudamos. Trabalhei 15 dias em um condomínio ajudando a retirar lama. Mas aqui no Rio Grande do Sul nós fomos diretamente atingidos, uma realidade totalmente diferente, que nós não esperávamos. O Estado todo está precisando de ajuda”, disse o marido.
“Hoje a gente precisa recomeçar. A gente não sabe a realidade que a gente vai encontrar quando tivermos acesso a casa. Os objetos e móveis tanto tempo submersos, a gente não sabe o que vamos poder reaproveitar. É bem difícil, eu tenho me preparado psicologicamente para esse momento”, finalizou Eliane.
Caso queira ajudar de alguma forma, basta entrar em contato pela página do Instagram: @elianemacielpsicanalista.