Por: Luana Motta

Flipetrópolis homenageia expoentes da literatura

Conceicao Evaristo | Foto: Eugenio Savio

O Flipetrópolis - Festival Literário Internacional de Petrópolis que começa nesta quarta-feira, 1º, e vai até o dia 05 de maio, na Região Serrana do Rio, pretende promover um grande encontro entre leitores e escritores. E ainda, mais do que isso, homenageando grandes nomes da literatura brasileira, como Conceição Evaristo, Ana Maria Machado e Juliano Moreira, quer trazer para o Palácio de Cristal, sede do evento, debates para além das obras literárias, como combate ao racismo científico, a luta feminista e o acesso e avanços na educação.

Trazendo também programação exclusiva para o público infanto-juvenil, o Flipetrópolis quer cativar novos leitores. Para Leandro Garcia, escritor e presidente da Academia Petropolitana de Letras, e um dos curadores do evento, a inserção do público infanto-juvenil começou antes mesmo da abertura, com a realização da exposição 'Portinari para Crianças', no Palácio de Cristal, uma mostra que traz 42 obras do pintor Cândido Portinari. Que atraiu um público imenso de alunos de várias escolas da cidade. Além de atividades diárias durante todos os cinco dias do festival com contação de histórias, teatro, música e encontro com autores.

Embora a curadoria seja formada por seis homens - Afonso Borges (presidente da Flipetrópolis), Gustavo Grandinetti, Leandro Garcia, Leo Cunha, Sérgio Abranches e Tom Farias - as homenagens foram propositalmente direcionadas às mulheres, duas expoentes da literatura nacional: Conceição Evaristo e Ana Maria Machado.

Macaque in the trees
Conceicao Evaristo | Foto: Eugenio Savio

"Conceição Evaristo se encaixa em uma perspectiva que não é apenas literária, mas de lutas sociais, de lutas feministas, pautas ligadas ao movimento negro. De uma certa maneira ela encaixou numa demanda que nós tínhamos de autoria feminina comprometida com lutas sociais", explica o curador, Leandro Garcia.

Macaque in the trees
Ana Maria Machado | Foto: Fernando Rabello

Já Ana Maria Machado é reconhecida por arrastar por meio de suas obras, públicos de diferentes idades. "Ana Maria foi escolhida pela longevidade da obra dela, é uma das autoras brasileiras mais reconhecidas do mundo. Ela ganhou prêmios mundo afora. A gente chegou à conclusão que ela precisava ser mais valorizada no território, que nós temos uma autora brasileira com uma obra imensa, uma obra premiadíssima no mundo, que precisa ser mais valorizada aqui", conta Leandro.

E esse reconhecimento também foi levado em conta na escolha do patrono desta edição, o médico psiquiatra Juliano Moreira, que embora seja baiano de nascimento, e tenha morado em vários lugares do mundo e do Brasil, escolheu Petrópolis para se aposentar nos últimos anos de vida. Sua data de falecimento coincide, inclusive, com a realização do festival, dia 02 de maio de 1933.

O jornalista e escritor, Tom Farias, que participou da curadoria de outras edições do festival literário como as que aconteceram nas cidades de Araxá (Fliaraxá), Paracatu (Fliparacatu) e Itabira (Flitabira), conta que nesta edição em Petrópolis houve um cuidado maior com as representações na cidade na montagem da curadoria.

A escolha de Juliano Moreira, além da relação com Petrópolis, é a oportunidade de tratar da valorização da ciência no país e seu papel como cientista negro no combate ao racismo. "A escolha do Juliano se deu por dialogar bastante com a ciência no Brasil, com a questão da loucura. O papel dele pode ser um gatilho para falar da ciência, do papel da ciência no Brasil. Por ele ser um homem negro traz outros gatilhos para pensar no Brasil, nessa nova jornada que o país está vivendo", diz Tom.

O Palácio de Cristal também foi uma estratégia para valorizar tanto a primeira edição do festival como a ocupação de espaços históricos e culturais da cidade. "O palácio oferece uma ideia luxuosa do que a gente pensa do paisagismo do festival literário, o palácio tem um pouco a ver com o que a gente quer transmitir, um grande simbolismo, o que um palácio em si oferece", conta.

Petrópolis 'Cidade das Letras'

Além de 'celebridades' da literatura, já esperado em festivais desse porte, a curadoria do Flipetrópolis está apostando no reconhecimento e valorização de escritores locais. A cidade possui diversas academias literárias e é reconhecida como um dos maiores acervos de pesquisa histórica no país, dentro do estado do Rio.

"Nós tivemos no passado eventos dessa natureza, claro que em menor porte, mas que nunca privilegiaram, na minha opinião, não privilegiaram devidamente os autores locais. Nunca deram muito valor de uma forma que eu acho satisfatória", diz Leandro.

O público poderá participar de mesas-redondas com autores locais, como Andrea Pachá, e outros que escolheram a cidade como lugar de criação de obras e até residência, como Leonardo Boff.

"Petrópolis é uma cidade que é chamada de cidade das hortênsias, cidade imperial, mas também é uma cidade que tem que ser conhecida como cidade das letras. É uma cidade que tem muitos escritores, muitas academias literárias, instituto histórico e isso nunca foi devidamente valorizado por eventos como esse. E nós queríamos fazer os dois, valorizar os dois, de fora e dentro", disse Leandro.

Evento

O Flipetrópolis será realizado em uma grande estrutura montada no Palácio de Cristal, centro de Petrópolis, a entrada é gratuita. Terão diversas atividades como mesas-redondas, apresentações culturais, sessão de autógrafos, entre outros. Será montada uma livraria com área de 345 metros. Serão cerca de 30 mil livros à venda, incluindo obras de autores que estão na programação.