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Conexão Educação Rio reúne diretores e professores no combate ao bullying

A primeira pesquisa, envolvendo 900 mil alunos, revelou que 20% sofreram provocação de colegas, 15% foram agredidos e 25% sentem medo. | Foto: Diogenes Hastenreiter

No último dia 19, o Jornal Correio da Manhã, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, realizou a primeira edição do seminário "Conexão Educação Rio", que reuniu diretores e professores da rede pública de ensino para um dia de palestras e capacitação sobre segurança escolar e cidadania, com destaque para o combate ao bullying e a relação entre alunos e professores, com foco no papel da escola e a responsabilidade da família.

O evento recebeu diretores e secretários de vários municípios fluminenses, além de membros do Comitê Intersetorial de Segurança Escolar. Também houve a distribuição da cartilha de segurança elaborada pelo comitê, com base em informações enviadas pela comunidade escolar das 92 cidades do estado, destinada a auxiliar professores, diretores e coordenadores em suas responsabilidades, incluindo dicas para aprimorar a relação entre os alunos, especialmente no combate ao bullying.

A secretária estadual de educação, Roberta Barreto, destacou a importância de iniciativas como esta e pontuou as ações desenvolvidas pelo Governo do Estado para garantir a segurança no ambiente escolar. "Em 2024 teremos uma equipe socioemocional desenvolvendo um trabalho de acolhimento e formação de professores e membros da comunidade escolar, para ajudar com a questão do bullying", afirmou.

A secretária também falou sobre o Comitê Intersetorial de Segurança Escolar, criado no início do ano - após a tragédia na escola de Blumenau/SC, que é formado por 32 membros da segurança público e de órgãos das secretaria estaduais, que tem como objetivo melhorar a segurança nas escolas.

"Escola sem bullying"

O pedagogo, filósofo e especialista em prevenção ao bubllying, Benjamin Horta, foi um dos palestrantes do evento, com o tema "Bullying no ambiente virtual - cyberbullying", abordando a diferenciação entre agressão verbal e bullying, além de estratégias para coibir tal comportamento.

Benjamim destacou a importância de compreender o uso da internet, uma ferramenta que, dependendo da abordagem, pode ter impactos positivos ou negativos, lembrando que a tecnologia amplifica problemas, pois a propagação de informações virtuais ocorre rapidamente, exigindo habilidade no seu uso.

O pedagogo também apontou que a falta de entendimento sobre o bullying contribui para sua escalada. Embora identificar grupos nas salas de aula seja uma medida, ele ressaltou que a intervenção apenas soluciona o problema a curto prazo. O acompanhamento contínuo é essencial para observar mudanças de comportamento, tanto do agressor quanto da vítima.

O especialista destacou a importância de ações como esta, parabenizando o Correio da Manhã e a Secretaria de Educação do Estado do Rio, lembrando o estado passa a exercer um papel de destaque no combate ao bullying no cenário nacional. Benjamim é criador do "Programa Escola sem Bullying' - que equipa instituições de ensino com recursos teórico-metodológicos par ao combate e a prevenção do bullying e da violência escolar.

Escola segura

Quem também palestrou foi a professora Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP, que abordou o tema "A Escola como um ambiente de segurança e bem-estar para superação das violências". Ela destacou que a diminuição da violência nas escolas não depende apenas da presença de agentes de segurança, mas também da disseminação eficaz de ideias, convívio social e normas.

A professora enfatizou que a escola promove um ambiente seguro, promulgando valores de respeito e justiça, enriquecendo o conceito de cidadania. No entanto, ela identificou desafios nas relações entre alunos, entre pais e a equipe escolar, ressaltando a importância de compreender as preocupações das crianças e buscar soluções tanto dentro quanto fora da sala de aula.

Para sustentar sua teoria, Luciene apresentou pesquisas realizadas com estudantes em São Paulo. A primeira pesquisa, envolvendo 900 mil alunos, revelou que 20% sofreram provocação de colegas, 15% foram agredidos e 25% sentem medo. A segunda pesquisa, com adolescentes, indicou que a maioria nunca considerou a automutilação (85%), mas destacou a existência de pensamentos suicidas em uma parcela significativa. A terceira pesquisa, com crianças, mostrou que a maioria nunca pensou em se mutilar, mas 10% já tiveram tais pensamentos.

A professora ressaltou o papel da família na educação, destacando que ela reflete a sociedade e influencia o comportamento da criança. Portanto, a escola não apenas educa, mas organiza as informações recebidas em casa e observadas diariamente.

Luciene argumentou que, ao contrário de uma briga entre irmãos, onde o vínculo permanece, uma briga com um colega pode resultar em isolamento. Assim, a função da escola é formar e contribuir para a formação do aluno, corrigindo seus erros.

Para corroborar seus argumentos, a professora citou dados do Pisa, mostrando que as interações sociais dos alunos no Brasil ficam abaixo da média mundial. Embora reconheça a importância da segurança escolar, com a presença de policiais, ela salienta que isso não é a única solução. Outras necessidades precisam ser abordadas para garantir o sucesso dessa intervenção.

A professora conclui afirmando que as crenças aprendidas em casa são exemplos a serem seguidos, mas a escola deve trabalhar coletivamente para estabelecer autorregulação nas normas e condutas em sala de aula.

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A secretária Roberta Barreto apresentou o "Manual de Proteção Escolas e Cidadania" | Foto: Diogenes Hastenreiter

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Grupo Correio da Manhã foi representado pelo presidente Marcos Salles | Foto: Diogenes Hastenreiter

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Seminário tratou sobre segurança na escola e combate ao bullying | Foto: Diogenes Hastenreiter


 

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