Por: Vicente Loureiro*

Desafios da Mobilidade Urbana

A Cooperação para a Mobilidade Urbana no Mundo em Desenvolvimento (CODATU), organização internacional, sem fins lucrativos, cujo objetivo é promover o intercâmbio entre diversos atores do setor de transporte e mobilidade urbana realizou, na semana passada em Bogotá / Colômbia, o Fórum Regional de Mobilidade Urbana da América Latina, reunindo cerca de 200 especialistas e gestores públicos e privados de todos os continentes, que apresentaram os principais desafios e avanços praticados nos transportes em diversas cidades.

A primeira conclusão do Fórum foi a da urgência em se combater a velocidade dos veículos nas cidades, tendo como objetivo reduzir as fatalidades no trânsito urbano e garantir assim uma mobilidade segura para todos. Entendendo que é inevitável o crescimento da mobilidade ativa nos espaços públicos, graças ao aumento significativo do uso da bicicleta e assemelhados, e da participação cada vez maior de pedestres no ir e vir cotidiano nas áreas urbanas, alguns especialistas já anunciam a necessidade de se considerar a bicicleta como modo de transporte de massa.

Os participantes do Fórum promovido pela CODATU acentuaram também a necessidade das cidades buscarem um novo modelo de ocupação do território: contendo a expansão urbana e o aumento das distâncias médias entre os domicílios e os postos de trabalho, incentivando, para isso, novas construções nos ambientes já urbanizados. Só desse modo, acreditam eles, será possível conseguir reduzir o descompasso entre o espraiamento das áreas urbanas e o crescimento demográfico da população, considerando essa busca uma espécie de pré-requisito para o alcance de uma mobilidade acessível, inclusiva e sustentável.

Outro aspecto destacado durante o encontro foi a urgência de entender que as cidades enfrentam uma fase de transição energética imposta pelas mudanças climáticas, o que está a exigir uma redução das emissões, sobretudo as provocadas pelos serviços de transporte responsáveis por cerca de 25% delas. Associada a essa compreensão, faz-se necessário também, segundo os debates, uma mudança de paradigma no modo de prestação dos serviços de transporte vigente. É preciso aceitar a multimobilidade e a intermobilidade como estratégias para se garantir acessibilidade universal aos sistemas e ter, em conta, que a micromobilidade e a eletromobilidade serão inevitáveis na busca da sustentabilidade ambiental.

Aumentar a participação dos transportes públicos nas viagens cotidianas, incluindo o ciclismo urbano como aliado na redução dos modos individuais e motorizados de locomoção, será fundamental para que a mobilidade possa cumprir seu papel de elemento promotor de maior coesão sócio territorial nas cidades, corrigindo a exclusão de setores mais pobres e periféricos da população, incluindo nelas também as questões de gênero, haja visto a crescente e, em alguns sistemas, já majoritária a presença das mulheres enquanto usuárias.

Falou se muito da necessidade de se praticar tarifas módicas e justas e em se procurar novas fontes e formas de financiamento da mobilidade urbana, incluindo os subsídios, mas principalmente alavancando receitas acessórias e não tarifária, porém sem deixar de lado a perspectiva de promover no tempo a redução das necessidades de viagem/hora praticadas, apostando na cidade de proximidades, onde as necessidades de obtenção de renda, saúde, educação, recreação, etc., possam ser cumpridas preferencialmente pelo transporte públicos e nos modos ativos.

São grandes os desafios, mas há exemplos exitosos a nos inspirar. As soluções, ao que parece, estão brotando nas cidades do mundo em desenvolvimento. Residem nelas os maiores problemas, mas também as mais animadoras atitudes políticas.

*Arquiteto e urbanista

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

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