Por: Vicente Loureiro*

A Celebração das Cidades

Desde a Eco 92, apregoa-se que devemos pensar globalmente e agir localmente. O mote agora parece ser ao contrário: aja localmente para ser global. Não é, como aparenta, um simples jogo de palavras. Trata-se do lema do Dia Mundial das Cidades, versão 2022, comemorado no último dia 31 de outubro por iniciativa da ONU, sinalizando que governos, preferencialmente locais e regionais, poderão criar cidades mais verdes, equitativas e sustentáveis. Pois 2/3 das metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), dependem quase exclusivamente do desempenho deles.

Dias depois, em 8 novembro, é comemorado também o Dia Mundial do Urbanismo. Instituído em meados do século passado com objetivo de pôr em destaque soluções de planejamento urbano capazes de contribuir para a integração saudável entre principais componentes da cidade: seus edifícios, espaços públicos, vias e modos de transportes, equipamentos sociais e áreas livres e verdes. Pouco mais de uma semana dedicada a celebrar as cidades e as formas e meios de melhorá-las. Uma feliz é oportuna coincidência.

Essa celebração das cidades e do urbanismo destaca a importância delas no enfrentamento da crise do clima. Segundo o Secretário Geral da ONU, Antônio Guterres, "...elas serão palco onde a batalha contra mudança climática será ganha ou perdida". Afinal, 55% da população mundial já vivem nelas e, em 2050, esse contingente de seres urbanos passará de 2/3. O futuro da humanidade, portanto, será urbano e as transformações capazes de gerar prosperidade, inovação e inclusão social ocorrerão sobretudo nas áreas urbanas.

Cuidar do fenômeno da urbanização passa a ser ação estratégica para o desenvolvimento sustentável do planeta. Para isso, ações promovidas pelos governos locais ganham importância decisiva na redução das emissões de gases do efeito estufa, no aumento da resiliência diante dos impactos dos eventos extremos, na universalização dos serviços urbanos básicos, como fornecimento de água potável e saneamento, e na entrega de ruas e espaços públicos seguros para todos, entre outros.

Importante reconhecer a contribuição dos prefeitos e lideranças locais na implantação de transformações urbanas tão necessárias quanto desejadas. Só eles, reúnem capital político e social indispensáveis à tomada de decisões e envolvimento dos diversas atores na construção de ambientes urbanos mais prósperos, limpos e inclusivos.

O cumprimento das metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU passará necessariamente por mudanças incrementais promovidas pelas ações locais. São elas capazes de adaptar-se melhor as condições específicas do território onde estão assentadas, sejam elas referentes ao clima, a topografia e as demandas de suas comunidades, além de permitirem o fortalecimento da identidade cultural e do senso de pertencimento dos moradores. Espera-se, ainda delas, o condão de catalisar as políticas públicas destinadas a salvar vidas e oferecer meios de subsistência dignos em todos os lugares do futuro. O planeta depende do destino traçado para as cidades.

*Arquiteto e Urbanista

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.