"Excesso de segurança", reclama agora o clã Bolsonaro

Foragidos, 61 bolsonaristas já foram pegos na Argenrina assim como agora Silvinei Vasques no Paraguai. E o próprio Bolsonaro deu motivos por duas vezes

Por Tales Faria

Carlos Bolsonaro

Poucas horas antes da madrugada desta sexta-feira (26), quando o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques foi preso no Paraguai fugindo do Brasil em direção a El Salvador, Carlos Bolsonaro, o filho Zero-Dois do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), postava na rede social “X”:

“Acompanho a internação para a oitava cirurgia decorrente da tentativa de assassinato contra o presidente @jairbolsonaro [...]. Confesso que, desta vez, o número de policiais mobilizados para acompanhar o procedimento e toda a movimentação ultrapassa qualquer limite que qualquer ser humano consideraria razoável —é algo absolutamente inacreditável e constrangedor. [...] O que se impõe [...] é nitidamente intimidatório. [...] De ontem para hoje, chegaram ao absurdo de proibir o acompanhamento até com relógio no pulso, mantendo uma rotina de restrições que todos já conhecem e que se repete dia após dia. [...] Não há como não se indignar diante da persistência dessa perseguição.”

É compreensível a dor do filho com os problemas de saúde do pai. Mas também não há como ignorar os motivos que levam o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a se preocupar com o risco de fuga dos condenados pela tentativa de golpe de Estado que resultou nos ataques às sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023.

Por causa da tentativa de fuga de Silvinei, neste sábado, 27, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou medidas restritivas contra 10 condenados pela tentativa de golpe. A Polícia Federal não encontrou Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, presidente do Instituto Voto Legal, no seu endereço. É Outro considerado foragido.

Em novembro de 2024, a Justiça argentina encontrou e prendeu 61 brasileiros foragidos que também haviam sido condenados pelos atos golpistas.  O próprio ex-presidente Bolsonaro levantou suspeitas sérias sobre si em dois episódios.

O primeiro foi quando resolveu se abrigar por dois dias na embaixada da Hungria, em fevereiro de 2024, após o STF ter determinado a apreensão de seu passaporte. Ao dar o furo de reportagem, o jornal “New York Times” afirmou: “Dadas as circunstâncias —um político enfrentando potencial prisão dormindo em uma embaixada estrangeira controlada por um aliado político— tinha todas as características de um homem buscando asilo político.”

O segundo episódio a levantar mais suspeitas sobre a intenção de fuga de Bolsonaro ocorreu na madrugada do dia 22 de novembro, quando os bolsonaristas haviam programado uma vigília em frente à sua residência em Brasília que poderia distrair os seguranças da Polícia Federal.

Bolsonaro cumpria prisão domiciliar. Naquele dia ele tentou destruir a tornozeleira sua eletrônica. O equipamento apareceu queimado e o ex-presidente admitiu ter sido o executor. Uma perícia da PF divulgada no último dia 17 confirmou.

Ou seja, têm todo direito Bolsonaro e seus filhos de reclamar. Mas também a Justiça e a polícia têm motivos de sobra para se precaver.