Hugo Motta admitiu que não tem autoridade

Presidente da Câmara disse que não determinou a retirada à força do deputado Glauber Braga da Mesa, nem impedir a imprensa e a TV Câmara de registrarem o tumulto Motta disse que essa não era a sua intenção, nem a forma truculenta com que os seguranças atacaram o deputado e deputadas que tentaram protegê-lo.

Por Tales Faria

Presidente da Câmara, Hugo Motta

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), pediu desculpas públicas pelo fato de a imprensa ter sido proibida de entrar no plenário e registrar a retirada à força do deputado Glauber Braga (Psol-RJ) da Mesa Diretora.

Motta disse que essa não era a sua intenção, nem a forma truculenta com que os seguranças atacaram o deputado e deputadas que tentaram protegê-lo.

Mas ele não pediu desculpas por ter suspendido as transmissões da TV Câmara censurando imagens dos incidentes.

"Tenho 46 anos de vida pública. Como deputada, nunca vi acontecer o que ocorreu hoje", disse Benedita da Silva (PT-RJ). Segundo ela, na não há registro na história de um presidente da Câmara mandar a Polícia Legislativa retirar um deputado à força e de maneira truculenta do plenário.

A decana disse também não ter na memória uma retirada da imprensa do plenário, com suspensão da transmissão da TV Câmara, para que a atuação dos seguranças não fosse registrada.

Se Motta diz a verdade e, de fato, não teve participação nos acontecimentos, isso só pode significar que ele não tem a menor autoridade, o menor controle sobre seus subordinados, muito menos ainda sobre os parlamentares.

Hugo Motta já havia lançado essa suspeita sobre si quando deputados bolsonaristas tomaram a Mesa Diretora da Câmara, nos dias 5 e 6 de agosto.

Ele não conseguiu retirar os parlamentares, que só saíram após um acordo fechado por Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Casa, já que Motta fora até barrado e impedido de sentar em sua cadeira na Mesa Diretora.

O líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), criticou sua "reação leniente" na época, ao mandar à Corregedoria Parlamentar uma lista de 14 nomes envolvidos no episódio sem que até hoje tenha havido uma decisão definitiva sobre a suspensão de mandatos.

Deputados governistas de esquerda cobraram até a renúncia do presidente da Câmara, enquanto ele assistia impassível aos discursos, deixando claro que não tem a menor intenção de fazê-lo.

No Palácio do Planalto , a atuação do presidente da Câmara não está passando despercebida. Mas a ordem no governo é evitar neste instante um embate direto contra Hugo Motta, pelo menos até o final do ano legislativo.

A expectativa é de que o próprio Hugo Motta evite embates no ano que vem, já que haverá eleições gerais, com ele próprio dependendo da opinião pública para manter seu mandato num estado em que a maioria dos eleitores apoia o governo federal.

O Palácio do Planalto avalia que Motta deverá ser reeleito como deputado diante da influência política de sua família na Paraíba. Mas está praticamente tomada a decisão de o governo não apoiar sua recondução ao comando da Câmara em 2027, caso Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja reeleito.