Para apaziguar Alcolumbre, Lula manda mensagem ao Congresso
Presidente do Senado divulgou nota reclamando da demora e sugerindo que governo insinua chantegem por "cargos e emendas"
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve enviar nesta semana - se não nesta segunda-feira mesmo - a mensagem formal ao Congresso indicando o advogado-geral da União, Jorge Messias, para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
No domingo, 30, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), divulgou nota reclamando da demora do Executivo em enviar ao Congresso a mensagem.
"Feita a escolha pelo presidente da República e publicada no Diário Oficial da União, causa perplexidade ao Senado que a mensagem escrita ainda não tenha sido enviada, o que parece buscar interferir indevidamente no cronograma estabelecido pela Casa, prerrogativa exclusiva do Senado Federal", disse a nota.
Procurada pela coluna, a Assessoria do presidente informou que a mensagem "será enviada em tempo hábil", ou seja, a tempo da sabatina marcada para o próximo dia 10 de dezembro, a que ele Messias será submetido na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ).
A explicação do Planalto é de que, junto com a mensagem, costuma-se enviar uma documentação que normalmente leva cerca de 12 dias para a sua elaboração.
A indicação de Messias foi publicada no Diário Oficial no dia 20. Portanto, os 12 dias vencem no dia 2 de dezembro. É por volta do dia 2, terça-feira, que a mensagem provavelmente será enviada.
Na verdade, Lula não quer briga com Alcolumbre. O ministro da Comunicação, Sidônio Palmeira, acrescenta que não há "qualquer solicitação de cargo, emendas, nenhum pedido de Alcolumbre ao governo".
Com isso, o Palácio do Planalto se apressa em desmentir notícias de que Alcolumbre pressiona contra a indicação de Messias para chantagear o governo e obter benesses tais como a de indicar um afilhado político para presidente do Banco do Brasil.
Na nota que divulgou neste domingo, o presidente do Senado lembra que também é presidente do Congresso e acusa:
"É nítida a tentativa de setores do Executivo de criar a falsa impressão, perante a sociedade, de que divergências entre os Poderes são resolvidas por ajuste de interesse fisiológico, com cargos e emendas. Isso é ofensivo não apenas ao presidente do Congresso Nacional, mas a todo o Poder Legislativo. Em verdade, trata-se de um método antigo de desqualificar quem diverge de uma ideia ou de um interesse de ocasião."
Até a semana passada, Alcolumbre vinha centrando suas críticas no líder do governo no Senado, o petista Jaques Wagner (BA). Ele atribuía a pressões de Wagner em favor de Jorge Messias o fato de o presidente ter preterido seu indicado para o STF, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Mas com a nota deste domingo, o presidente do Senado acenou com uma mudança de alvo, agora contra o governo. Se o mal-estar contra Jaques Wagner já era ruim, a ampliação da briga para o governo é tudo o que Lula não quer.
Wagner e o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), têm dito que Lula chamará Alcolumbre para uma conversa tão logo o clima melhore.
Na CCJ, o governo ainda não tem votos suficientes para aprovar Messias, mas está próximo de conseguir, segundo levantamento do próprio Alcolumbre. No plenário do Senado, no entanto ele ainda está longe dos 41 votos necessários.
Alcolumbre tem dito que não pedirá votos contra Messias, mas dá sinais contraditórios. Contou a senadores que poderia votar em qualquer outro indcado, "menos o Messias".
O advogado-geral, que está em campanha pedindo audiências aos senadores, ainda não conseguiu marcar com o presidente do Senado.
