Ausência de Alcolumbre e Hugo Motta foi "ação coordenada"

Governistas veem tentativa de paralisar o governo e atingir a popularidade de Lula às vésperas da eleição

Por Tales Faria

Davi Alcolumbre e Hugo Motta

Não foi mera coincidência o fato de os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), juntos, se ausentarem nesta quarta-feira (25) da cerimônia no Palácio do Planalto de sanção do projeto que isenta do imposto de renda (IR) quem ganha até R$ 5 mil de salário por mês.

Os dois combinaram a ausência como uma manifestação de protesto. Alcolumbre e Motta mandaram ao Palácio do Planalto, no entanto, o recado de que o gesto não era contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e que tinham motivações diferentes.

O presidente do Senado, porque rompeu com o líder do governo na Casa, Jaques Wagner (PT-BA), a quem acusa de tê-lo traído e indicado o advogado-geral da União, Jorge Messias, para a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Alcolumbre defendia a indicação do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Já o presidente da Câmara teria como motivação o seu rompimento com o líder do PT na Casa, Lindbergh Farias (RJ), a quem acusa de capitanear uma campanha pública de ataques à sua honra.

Lula finge que acreditou. Sua ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffamann, passou o pano e agradeceu publicamente a Motta e Alcolumbre. "A ausência dos presidentes em nada ofusca a importante condução e o apoio que deram a essa matéria", afirmou na solenidade.

Mas não é exatamente assim que pensam e falam à boca pequena os governistas. Com duas de suas principais lideranças no centro do furacão contra o governo, promovido pelos comandantes do Congresso, o PT evita no entanto explicitar sua avaliação sobre as movimentações de Motta e Alcolumbre.

A estratégia dentro do partido é tentar manter, publicamente, a confusão no Senado separada da encrenca na Câmara. Tratar os dois episódios como se não tivessem vasos comunicantes e esperar a temperatura baixar.

Sobra para os aliados mais radicais do partido, como o Psol, colocar a boca no trombone:

"Não adianta esconder. O que está havendo aqui é uma ação pré-eleitoral coordenada do centrão contra o presidente Lula. Motta e Alcolumbre combinaram a ausência. Estão armando essas brigas para paralisar as ações do governo no Congresso", afirma o deputado Ivan Valente (Psol-SP), um decano da esquerda e aliado do governo.

Valente diz que, ao hostilizar publicamente o líder do PT, Motta está imitando Arthur Lira (PP-AL), que quando presidente da Câmara rompeu com o então ministro-chefe das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, para inviabilizar articulações políticas do Palácio do Planalto.

No caso de Alcolumbre, Valente lembra que a indicação de ministros do STF cabe ao presidente da República.

"O senador quer tomar para si essa atribuição? Não. Ele sempre soube que Rodrigo Pacheco não seria indicado por Lula. Está criando um falso embate para paralisar pautas do governo e aprovar as pautas bombas às vésperas da eleição. Essa é a estratégia do centrão", diz o deputado.

Só tem um problema aí. Ausentes da solenidade, os dois, na prática, deixaram espaço para Lula assumir sozinho a paternidade da isenção de IR para os mais pobres. As palavras amenas de Gleisi terão pouco peso eleitoral.