Lula diz que Alcolumbre não defenderá derrubada de Messias
Lula compreende preferência de Alcolumbre por Rodrigo Pacheco, mas diz que escolha de ministros do STF é atribuição do presidente da República
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem dito a aliados que o Senado aprovará o nome do advogado-geral da União, Jorge Messias, como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente da República afirma entender que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), torcesse pela indicação do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a vaga, mas que não podia abrir mão de Messias.
Lula diz não acreditar que Alcolumbre trabalhará pela recusa do nome de Messias pelos senadores, na sabatina da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e no plenário.
O presidente vê Alcolumbre como um aliado, a quem já deu "várias demonstrações de prestígio". A maior delas foi a pressão para a possível exploração de Petróleo na Margem Equatorial, próxima ao Amapá.
Mas, segundo Lula, a indicação de ministros do STF é uma atribuição exclusiva do presidente da República.
Na verdade, desde a crise do Mensalão, no seu segundo governo, Lula decidiu que, quando tivesse outra oportunidade, não abriria mão de nomear ministros para o Supremo de sua "total confiança".
Ele não teve esta oportunidade na época do Mensalão. Mas agora, nesta sua terceira passagem pelo Palácio do Planalto, é assim que o presidente tem se pautado nas escolhas pata o STF. Indicou seu advogado pessoal, Cristiano Zanin, seu ministro da Justiça, Flávio Dino, assim como o próprio Jorge Messias.
"Gato escaldado tem medo de água fria", tem dito Lula sempre que defendem a indicação de nomes com os quais não tenha uma ligação pessoal forte.
Lula lembra que boa parte dos ministros do STF da época do Mensalão foram nomeados por ele quando presidente. Naquela época, não levou em conta ligações pessoais. Mas os ministros acabaram por condená-lo, só voltando atrás após as revelações pela Vaza-Jato de que o juiz Sérgio Moro manipulou o julgamento.
Mesmo assim, quando comunicou a Rodrigo Pacheco que ele não seria indicado, e sugeriu que ele concorresse a governador de Minas Gerais, Lula disse ao senador que haveria "uma próxima oportunidade" para sua nomeação.
Apesar do otimismo do presidente em relação a Alcolumbre, é grande a apreensão entre petistas. O Senado tem sido visto como uma barreira contra as decisões da Câmara que prejudicam o governo.
Neste momento, o presidente da Câmara, Hugo Motta [Republicanos-PB), é visto no Palácio do Planalto como um aliado da oposição.
Para os petistas Motta foi o principal artífice da estratégia da oposição de colocar a questão da segurança pública como tema de campanha. Ele entregou a relatoria do Projeto de Lei Antifacção, apresentado pelo governo Lula, a um secretário do governador de São Paulo e possível candidato a presidente, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Antes, chegou a derrubar o aumento do IOF para compensar a isenção de pagamento do Imposto de Renda a quem ganha até R$ 5 mil, quase inviabilizando a proposta o governo.
Para os petistas o relacionamento com Motta só tende a piorar, ainda mais depois que estourou o escândalo do Banco Master e suas ligações com o centrão.
Nos bastidores do PT circula que ainda surgirão mais denúncias contra políticos e, por isso, Motta e Guilherme Derrite tentam descapitalizar a Polícia Federal, que é de onde saem essas investigações.
A tendência, portanto, é de que o governo entre em choque com a Câmara. Por isso, a boa relação com o Senado de Davi Alcolumbre se tornaria cada vez mais necessária.