Governadores freiam Tarcísio
Governadores do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Brasília, Santa Catarina não querem que apenas São Paulo opine sobre projeto contra facções
Os governadores de direita colocaram nesta quarta-feira, 12, um freio na tentativa do governador Tarcísio de Freitas (Progressistas), de que São Paulo assumisse a paternidade de um novo marco legal da Segurança Pública no país.
Os governadores do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL); de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL); e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil); além da vice-governadora de Brasília, Celina Leão (PP), foram juntos a Brasília cobrar do presidente da Câmara, Hugo Motta (Progressistas-PB), o adiamento da votação do projeto de lei antifacção.
O relator do texto e secretário licenciado de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (Progressistas), homem da confiança de Tarcísio, foi designado por Motta na sexta-feira, 7, como relator do projeto que entraria na pauta nesta quarta-feira mesmo.
Logo após o final de semana, já na segunda-feira, Derrite apresentou uma primeira versão do relatório. Desde então mudou o texto duas vezes. E anunciou que não pretendia apenas alterar o projeto enviado pelo governo, mas preparar "um verdadeiro novo marco legal e histórico da segurança pública do país".
A ambição do secretário, que foi licenciado por Tarcísio especialmente para relatar o projeto, não desagradou apenas o governo, cuja ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, reclamou do anúncio de que as facções criminosas seriam equiparadas a organizações terroristas e das limitações que Derrite impunha à atuação da Polícia Federal.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reclamou de terem "roubado" a autoria do projeto. Mas, além de Lula e do PT, os governadores também se revelaram incomodados com Derrite, braço direito de Tarcísio, não tê-los ouvido.
Ao chegar à Câmara para a reunião com os colegas de direita, Cláudio Castro se negou a responder à pergunta desta coluna sobre quem seria, de fato, o pai do projeto: "Derrite ou o governo federal?"
Castro fechou a cara em sinal de desagrado e entrou apressadamente na reunião com os governadores de oposição ao governo federal. Ao sair, anunciou:
"Quem opera a segurança pública são os estados. Não adianta fazer um projeto sem ouvir os estados, sem saber se aquilo que está sendo votado vai ajudar os estados."
O governador disse que levou a Motta o pedido para que esses projetos não sejam votados de "maneira tão rápida assim" e que fosse, antes, "mais discutido com os estados, o Senado e o Supremo Tribunal Federal (STF)".
Coube a Caiado revelar o sentimento do grupo:
"Eu, por exemplo, sem falsa modéstia sou uma referência nesse tema da segurança. No entanto, ninguém me procurou, não fui ouvido. Não posso comentar sobre o Derrite, ou o governador Tarcísio, de São Paulo. Mas não dá para aceitar que o projeto seja feito assim, de afogadilho."
Na verdade, entre os governadores que procuraram Motta, Caiado e Zema são tão pré-candidatos a presidente da República quanto Tarcísio. Cláudio Castro e Jorginho Mello já disseram que seguirão orientação do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre quem apoiar em 2026, e Bolsonaro ainda não se definiu.
O tema da segurança é considerado decisivo para a campanha eleitoral, o que acabou unindo os governadores de direita ao Palácio do Planalto na proposta de adiar a votação do projeto antifacções criminosas.
Hugo Motta não anunciou, até o final da tarde, o adiamento da votação. Mas já era praticamente unânime a opinião dos líderes de que ele adiaria. A dúvida era por quanto tempo.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT), disse à coluna que provavelmente o projeto só será votado na semana do dia 24.