Por: Tales Faria

Irritados com Fux, ministros apressaram penas de Bolsonaro

Primeira Turma do STF durante julgamento da tentativa de golpe de Estado | Foto: Gustavo Moreno - STF

A expectativa dos ministros do Supremo Tribunal Federal era de que toda a sessão da 1ª Turma do STF, nesta quinta-feira, 11, fosse ocupada pelos dois votos que faltavam no julgamento do "núcleo crucial" da tentativa de golpe de Estado chefiada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ficaria para a sexta-feira a discussão da dosimetria. Ou seja, não se falaria nesta-quinta-feira do tempo de prisão de Bolsonaro e dos demais acusados.

Mas a ministra Cármen Lúcia e o presidente da Turma, Cristiano Zanin, conseguiram apresentar seus votos tão rapidamente quanto foi, na terça-feira, a fala do ministro Flávio Dino.

Com isso, foi possível iniciar ainda nesta quinta-feira a discussão sobre a dosimetria das penas esperada para o dia seguinte. A discussão foi iniciada pelo relator, Alexandre de Moraes.

A decisão de apressar o julgamento - e, portanto, o anúncio das penas de Bolsonaro - foi motivada, por incrível que pareça, pelo ministro que foi considerado o maior defensor de Bolsonaro e dos demais réus na Turma.

A demorada exposição de Luiz Fux, no dia anterior, irritou os demais ministros. Foram mais de 12 horas de uma fala que bateu todos os recordes de tempo nos julgamentos do STF.

Seus colegas de Tribunal também ficaram irritados com as críticas de Fux às decisões anteriores da Corte, com as quais ele próprio havia concordado. E até com a forma como ele tratou os demais ministros, de maneira agressiva, e sem permitir apartes.

"Durma tranquilo que não farei apartes", chegou a reagir Flávio Dino naquela sessão. Nesta quinta-feira, Cármen Lúcia voltou ao tema, quando Dino lhe pediu um aparte. "Eu sempre concedo, ministro. Não vejo problema", respondeu educadamnente ao colega, diferentemente de Fux.

A irritação com Luiz Fux é que levou todos os quatro ministros que votaram contra o ex-presidente a combinarem antes da sessão - pela manhã e ao longo da madrugada - o formato das apresentações desta quinta-feira.

O resultado é que a sessão foi marcada pelo clima pesado, em que os ministros discutiram os votos de Cármen Lúcia e Cristiano Zanin sem citar o nome do colega em nenhum momento durante as discussões dos votos.

Parecia um daqueles casos de desentendimento dos grupos de crianças e adolescentes, em que os colegas resolvem ficar durante algum tempo sem falar com um deles. Na gíria, estão dando "um gelo". Fux tomou um verdadeiro "gelo".

Ele passou praticamente a sessão inteira em silêncio e cabisbaixo. Só veio a se manifestar quando não era mais possível que o ignorassem.

Foi durante a discussão da dosimetria das penas, depois que todos haviam votado e que já estava decidida a condenação de Bolsonaro e os demais membros do "núcleo crucial" do golpe.

Para aumentar o constrangimento, o próprio presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Roberto Barroso, apareceu na sessão. Ele não é mebro da 1ª Turma. Sua presença funcionou como uma manifestação de solidariedade ao grupo.

Flávio Dino havia relatado que, ao longo da quarta-feira em que a sessão foi tomada pela fala de Fux, as redes sociais e suas caixas de mensagens ficaram tomadas por ameaças de bolsonaristas. O ministro contou que chegou a pedir diligências da Polícia Federal.

De qualquer maneira, ao final da sessão o clima voltou ao nível de cordialidades normal nas sessões do STF.