Os bolsonaristas adotaram o discurso de que está tudo acertado com o centrão para o Congresso aprovar a anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Não é bem assim. Primeiro, porque uma parcela considerável do centrão, especialmente do Norte e do Nordeste, ainda segue dentro da campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O comando partidário anunciou rompimento, mas as bases ainda não. Há até ministros dizendo que permanecerão no governo.
E, depois, outro problema: ainda há muita desconfiança de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não se lance como candidato ao Palácio do Planalto. Tarcísio é a opção preferencial dos caciques do centrão.
O governador mandou um recado aos presidentes dos partidos que integram o chamado centrão do Congresso. São eles: União Brasil, PP, PSD, MDB e Republicanos.
Tarcísio avisou que pode não se desincompatibilizar do cargo até abril de 2026, como determina a legislação eleitoral a quem tiver ocupando cargo público e quiser concorrer a outro posto. Sem se desincompatibilizar, o governador só poderá concorrer à reeleição.
E qual o motivo para Tarcísio desistir de disputar a presidência da República? Simples: ele disse que não concorrerá "em hipótese alguma" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A princípio, poderia soar como um gesto de cortesia com Bolsonaro. Mas é, na verdade, por desconfiança de que pode ficar a ver navios com o próprio Bolsonaro se lançando.
O sinal vermelho piscou depois que o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), divulgou sua minuta de projeto da anistia a ser submetido ao plenário.
Está escrito com todas as letras na alínea 3 do parágrafo 2º do artigo 1º do projeto que a tal anistia que interessa a Bolsonaro terá que alcançar todos os ilícitos:
"Civis, administrativos e *eleitorais* [grifo do colunista]* vinculados ou associados às condutas referidas no caput, afastando-se, inclusive, todas as inelegibilidades já declaradas ou que venham a ser declaradas pela Justiça Eleitoral contra os beneficiários desta Lei."
Escrito e reafirmado na alínea 4, que a anistia alcança "os crimes políticos ou conexos, eleitorais e aqueles que tiveram seus direitos sociais e políticos violados".
Desde 2023, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente da República está inelegível. Ele foi condenado por abuso do poder político e econômico na campanha eleitoral.
Se este modelo de anistia for aprovado, Bolsonaro se torna elegível, poderá se candidatar. E Tarcísio avisou: não concorre contra seu antigo chefe. Mais: a minuta levanta a suspeita de que Bolsonaro quer mesmo ser o candidato.
O governador não gosta nem mesmo da ideia de concorrer contra um integrante do clã do ex-presidente. E o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) já ameaçou até deixar o partido para se lançar, ele próprio, como candidato.
Em entrevista recente à revista Pauí, publicada no dia 4 deste mês de setembro, Eduardo Bolsonaro reafirmou essa possibilidade: "Se eu for candidato, explodo o debate."
Não é certo que ele exploda o debate, como afirma. Mas é praticamente certo que, neste caso, explodirá com a candidatura predileta da chamada Faria Lima, ou seja, o governador de São Paulo.
Também explodem os planos de Valdemar Costa Neto, presidente de seu partido, o PL, de fazer da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro a vice na chapa de Tarcísio.
Na entrevista, Eduardo até afirmou: "A Michelle é uma pessoa boa comigo." Mas reclamou da preferência por ele no PL: "A pergunta que eu faço é: será que o partido não vê que o que eu faço aqui é muito mais relevante?"