Por: Tales Faria

Ministros podem sair e, ao mesmo tempo, ficar no governo

União e PP comunicam retirada do governo federal | Foto: Reprodução vídeo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse aos ministros Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esporte) que não pretende inviabilizar a permanência deles nos seus partidos atuais. Sabino é filiado ao União Brasil e Fufuca, ao PP.

Durante almoço nesta quarta-feira, 3, no Palácio da Alvorada, Lula deixou a critério dos dois ministros a decisão se sairão ou se ficam no governo. Deu, inclusive, a opção de manterem seus indicados em cargos de confiança ou escolherem novos nomes.

Ou seja, os ministros da frente partidária União-PP poderão sair , mas, ao mesmo tempo, permanecer no governo. É uma nova modalidade, digamos assim, de relacionamento com a base de apoio governista no Congresso.

Os ministros, por sua vez, deixaram a impressão de que permanecerão nos seus cargos. Apesar de Lula ter dito entender que o Fufuca e Sabino serão submetidos a teste por seus partidos. Por isso, para evitar constrangimentos, é que deixou a cargo dos dois decidirem se saem ou se ficam.

A frente PP-União Brasil já anunciou, na terça-feira, 2, que espera a demissão dos ministros em um prazo de 30 dias.

A informação que chegou ao Palácio do Planalto é de que o comando da federação partidária também decidiu, além da nota, fazer um esforço concentrado junto a suas bancadas no Congresso para que votem os projetos massivamente contra o governo.

Uma rejeição massiva aos projetos do governo no plenário poderá servir como demonstração de que os ministros são fracos, não têm votos a oferecer. A estratégia é fazer com que isso se torne um grande constrangimento para Fufuca e Sabino.

O Palácio do Planalto, no entanto, tem dito que não avaliará esses dois ministros pelos votos que possam trazer no Congresso. A importância de ambos é o apoio eleitoral em 2026. Tanto na eleição presidencial, como para o Senado.

A eleição de senadores depende muito não só dos próprios candidatos como também de seus cabos eleitorais, que são os candidatos a deputados e os demais políticos locais, como prefeitos e vereadores.

A prioridade absoluta para Lula, além de sua própria reeleição, é impedir que a oposição eleja uma bancada majoritária.de senadores. Os bolsonaristas têm dito que trabalham para a oposição sair da eleição do ano que vem com maioria de 41 votos no Senado.

Uma bancada da oposição com maioria de votos não só poderia praticamente inviabilizar o eventual segundo governo do presidente Lula, como ameaçaria com impeachment parte significativa dos ministros do Supremo Tribunal Federal.

O primeiro na mira dos bolsonaristas é o ministro Alexandre de Moraes, mas há outros nomes. Estão na lista negra da oposição o presidente do STF, Luís Roberto Barrosos e mais Gilmar Mendes, Edson Fachin, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Flávio Dino. O suficiente para compor uma nova maioria na Corte.

Além da disputa para o Senado, a permanência dos dois ministros na base governista – assim como de boa parte dos políticos do centrão no Norte e no Nordeste – é fundamental para a campanha à reeleição de Lula.

O presidente da República acredita que, mantendo sua popularidade nos níveis atuais, manterá como cabos eleitorais boa parte dos políticos do centrão, incluindo a federação PP-União.

Em outras palavras: há muita água para rolar debaixo dessa ponte, que não será represada nem só pela saída dos ministros, nem só pela permanência.