'Efeito Temer' derrotou Bolsonaro e fez de Tarcísio refém
O presidente Jair Bolsonaro e seus filhos foram derrotados na primeira batalha de bastidores do julgamento do golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente Jair Bolsonaro e seus filhos foram derrotados na primeira batalha de bastidores do julgamento do golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF). Essa batalha foi em torno do momento do julgamento do chamado "núcleo crucial", marcado para o próximo dia 2 de setembro.
Esse primeiro grupo a ser julgado inclui Bolsonaro e seus auxiliares mais próximos, apontados como líderes da tentativa de golpe.
Bolsonaro perdeu a batalha em torno do momento do julgamento quando o ministro indicado pelo ex-presidente Michel Temer, Alexandre de Moraes, decidiu, como relator do processo, antecipar a entrega de seu parecer.
No meio político, a derrota de Bolsonaro na definição do momento do julgamento foi batizada como "efeito Temer", por causa da proximidade entre Moraes e o ex-presidente Michel Temer (MDB).
É vista como uma articulação do centrão visando permitir a candidatura à Presidência da República do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Ele é o nome da preferência de seu partido, o Republicanos, além do PP, do União Brasil, e em boa parte dos demais partidos de centro no Congresso, como PSD e MDB, para disputar o comando do Palácio do Planalto em 2016.
Tarcísio precisará se desincompatibilizar em abril de 2026 do cargo de governador para se candidatar à Presidência. Mas se Alexandre de Moraes protelasse a entrega do relatório e, portanto, o início do julgamento, haveria o risco de a decisão final sair depois de abril.
Com o início do julgamento marcado para setembro, o veredito contra Bolsonaro sai antes, podendo ser até neste ano, mesmo que o ministro Luiz Fux apresente pedido de vista.
A única hipótese de protelação seria, então, se dois dos cinco membros da Primeira Turma do STF votassem pela absolvição do ex-presidente, o que não é esperado. Aí, sim, a defesa poderia entrar com o chamado "embargo infringente", adiando a decisão final.
Ou seja, o chamado "efeito Temer", praticamente sela o destino contra Bolsonaro e a favor da possibilidade de desincompatibilização de Tarcísio. Caberá a ele decidir se quer ou não concorrer.
Bolsonaro e seus filhos enxergaram aí uma articulação do centrão.
Ficaram tão irritados que passaram a criticar publicamente Tarcísio e qualquer outro governador do campo conservador interessado no Palácio do Planalto.
O centrão havia se decepcionado com o clã Bolsonaro depois que seu filho "Zero Dois", o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), articulou com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a aplicação do tarifaço contra empresas brasileiras.
Mas o centrão ainda tenta evitar bater de frente com o clã Bolsonaro. Motivo: o ex-presidente tem um a carta na manga que pode dificultar a candidatura de Tarcísio de Freitas. Basta Bolsonaro anunciar apoio a um membro de sua família como candidato ao Planalto.
Nesse caso, ninguém acredita que Tarcísio de Freitas se lançaria candidato a presidente e, portanto, não se desincompatibilizaria em abril.
Seria uma desarrumação geral no campo da direita, que teria apenas seis meses para trabalhar um candidato, no lugar de Tarcísio, contra a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A verdade é que Bolsonaro depende do centrão, mas o governador Tarcísio de Freitas e os partidos que o apoiam também estão reféns da família Bolsonaro.