Tarifa Zero: o ótimo é inimigo do bom
Quem dera que sobrasse dinheiro no governo federal para essa facilidade aos usuários! O Brasil tem mais de 5 mil municípios. Mas, infelizmente, isso não é possível.
Há uma discussão na ordem do dia sobre a possibilidade do governo federal implementar no Brasil a tarifa zero nos ônibus municipais.
Quem dera que sobrasse dinheiro no governo federal para essa facilidade aos usuários! O Brasil tem mais de 5 mil municípios. Mas, infelizmente, isso não é possível. Não há condições orçamentárias e fiscais para essa iniciativa.
O que é possível é o governo federal implementar o bilhete único intermunicipal nas regiões metropolitanas do país. Como fizemos aqui no Rio de Janeiro, atendendo a toda a região metropolitana do estado, desde 2010.
Os moradores das 20 cidades atendidas pelo BUI, que ganham até R$ 3.205,00 por mês, têm um subsídio no seu deslocamento entre essas cidades. O usuário tem direito ao uso de dois modais entre ônibus, trens, metrô, barcas e vans legalizadas, sendo que um deles tem que ser intermunicipal. A implantação dessa política pública permitiu que milhares de trabalhadores das cidades do Grande Rio deixassem de perder uma oportunidade de emprego “punidos” por morar em outra cidade e, por isso, o custo do transporte se tornar inviável para os empregadores de pequeno e médio porte, sobretudo.
Um bom profissional da cidade de Belfort Roxo na Baixada Fluminense, por exemplo, deixou de ser preterido na disputa de uma vaga na cidade do Rio de Janeiro, pelo custo do transporte impingido ao empregador. Já são 15 anos de Bilhete Único Intermunicipal, benefício incorporado como Política de Estado. No que pese o valor do subsídio ter diminuído nesses últimos anos.
Daí que sugiro ao governo federal que implemente o BUI nas regiões metropolitanas do Brasil. O custo será muito menor do que a tal tarifa zero. Quantos trabalhadores de cidades das regiões metropolitanas de Salvador, Porto Alegre, Vitória, Recife, Curitiba, João Pessoa, Fortaleza, e por aí vai, são discriminados na escolha da vaga de emprego por representar um custo a mais para os empregadores?
Muitas vezes, no Brasil, se quer sair de uma situação precária ou de inércia, para o patamar ideal, sem se dar conta da frase filosófica do grande Noel Rosa: “com que roupa eu vou, ao samba que você me convidou?”.
O ótimo é inimigo do bom.
*Jornalista. Instagram: @sergiocabral_filho