Calor

Você acha que é possível uma criança ou adolescente reter conhecimento dentro de uma sala de aula com temperaturas acima dos 30 graus?

Por Sérgio Cabral

Ar condicionado em sala, item imprescindível nas escolas para combater o extremo calor durante o verão brasileiro.

Você acha que é possível uma criança ou adolescente reter conhecimento dentro de uma sala de aula com temperaturas acima dos 30 graus? Uma professora consegue estimular seus alunos diante desse absurdo? Pois essa é a realidade da rede pública de ensino em grande parte das cidades brasileiras, para os alunos e professores do ciclo básico, ensino fundamental e médio. Não existe ar condicionado na maioria das salas de aula do Brasil.

Aqui no estado do Rio, quando assumi o governo do estado, em 2007, era essa a nossa realidade. Priorizei a reforma de todas as unidades escolares e climatizamos todas as salas de aula da rede estadual. Foram mais de 32 mil salas de aula em quase mil escolas. Nos mais de 300 CIEPs, à época de responsabilidade do estado, contratamos o escritório de arquitetura de Oscar Niemeyer para fazer as adaptações necessárias para sua modernização e climatização.

No início, o atuante sindicato dos professores desdenhou da iniciativa, dizia que não era prioridade para a educação pública. Hoje, é pauta prioritária em todas as negociações dos sindicatos de professores do país com prefeituras e governos estaduais.

Como governante, não podia implementar metas na educação pública sem as condições básicas oferecidas aos profissionais da educação e nossas alunas e alunos. Depois de toda infraestrutura implementada, laptops para os professores e alunos com os melhores desempenhos, reajuste salarial anual para o magistério, entre outras iniciativas, alcançamos as melhores posições do IDEB, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, no país.

Voltemos ao calor. Ele era insuportável nos trens e barcas. Era assim a realidade dos seus usuários. Milhares de pessoas se queixavam da sauna dentro de trens do metrô e da Supervia, assim como no trajeto marítimo Rio-Niterói e Rio-Paquetá. A imprensa, quase que diariamente, registrava as altas temperaturas dentro desses modais e as reclamações constantes dos usuários pelo sufoco do calor dentro de vagões, barcas e ônibus.

Renovamos toda a frota de trens do metrô e da Supervia, assim como as barcas, e passamos a exigir ar condicionado nos ônibus intermunicipais, atribuição de regulação do governo estadual.

Deixei o governo, em 2014, com todos os modais bem diferentes da situação que encontrei, em 2007.

Nossos milhares de policiais militares e civis circulavam em viaturas sem ar condicionado. Imagine a pessoa com uniforme, armamento, numa profissão perigosa e arriscada, tendo que já enfrentar, dentro da viatura, o inimigo invisível: o calor! Renovamos as frotas das polícias com manutenção terceirizada, ar condicionado deixou de ser um problema nas viaturas, em meus 8 anos de governo.

Dramática era a situação da rede hospitalar do estado. Faltava tudo, inclusive ar condicionado! Imagine pacientes e profissionais da saúde tendo que conviver com temperaturas insuportáveis. Reformamos e ampliamos todas as unidades hospitalares, além de construir 6 novos hospitais e mais de 50 UPAs 24h, e, claro, acabamos com o calor desumano em toda a rede estadual de saúde do estado.

Hoje, vivemos os anos mais quentes do planeta desde o início das medições do aquecimento da Terra.

O calor mata ou deixa sequelas, além de gerar um desconforto epidérmico e um enorme cansaço físico e mental.

Ninguém é capaz de estudar, trabalhar, se curar, diante de um calor insuportável.

*Jornalista. Instagram: @sergiocabral_filho