Duane Eddy, pioneiro da guitarra elétrica nos anos 1950, morreu no dia 31/4, aos 86 anos. Dono de vasta discografia, deixou uma frase importante. Perguntaram-lhe qual fora sua maior contribuição à música popular. Respondeu: Não cantar. E estava certo. Eddy, ídolo de Jimi Hendrix, não precisava cantar. Foi grande virtuose do instrumento, e sua versão de Peter Gunn, de Henry Mancini, é incendiária. Muitos outros artistas poderiam ter deixado contribuição parecida, mas insistiram em cantar.
A internet tem várias listas de piores cantores de todos os tempos, feitas por supostos entendidos no assunto. Delas constam Ozzy Osborrne, Iggy Pop, Britnam Spears, Justin Bieber e Beyonce. Como nunca ouvi nenhum deles, não posso opinar. O que me surpreendeu foram as unanimidades: Bob Dylan, Yoko Ono e Rod Stewart. Estão em todas as listas de piores. Os leitores discordarão, claro, e eu adoraria ler suas listas.
A música brasileira também comportaria tais listas, em todas as áreas. Mas, para não ser acusado de preconceituoso, vou me limitar a um gênero que conheço bem: a bossa nova. Nesta, dois gigantes avultam entre os que cantavam mal: Tom Jobim e João Donato. É verdade que não gostavam de cantar e, como diziam, só faziam isso para pagar o aluguel. Mas o fato é que gravaram dezenas de discos cantando, mesmo depois de já terem casa própria. Vinicius de Moraes também era péssimo, mas ninguém percebia porque, diante de certas notas, Vinicius tomava um gole de uísque e deixava a plateia cantar por ele.
Afinal, o que é cantar bem? Certa vez, numa festa chique em Hollywood nos anos 1920, Charles Chaplin pediu licença para cantar. E produziu uma belíssima versão da Celeste Aida, de Verdi. A dona da casa, encantada, cumprimentou-o: Não sabia que era cantor, sr. Chaplin!. Mas não sei cantar, madame, disse Chaplin. Estava só imitando o Caruso.
*Jornalista e escritor. Autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues. Membro da Academia Brasileira de Letras.