Essa conversa dominical sobre a sigla MPB (5/11 e 12/11) me fez lembrar sua estranha fixação inicial pela viola. Não a viola erudita, prima severa do violino (este, soprano; ela, contralto), mas a viola brasileira, caipira, cabocla, sertaneja, como tecnicamente a chamam.
Rara a música de sucesso entre 1966 e 1972 que não falasse em viola. E tome de viola principalmente naqueles finais apoteóticos dos festivais da canção, que levantavam as massas nos auditórios.
Em "Disparada" (1966), de Geraldo Vandré e Theo de Barros: "Vou pegar minha viola/ Vou deixar você de lado/ Vou cantar noutro lugar!". Em "Ponteio" (1967), de Edu Lobo e Capinam: "Quem me dera agora/ Eu tivesse a viola pra cantar/ Ponteio!!!". Em "Roda Viva" (1967), de Chico Buarque: "A gente toma a iniciativa/ Viola na rua a cantar/ Mas eis que chega a roda viva/ E carrega a viola pra lá".
Em "A Estrada e o Violeiro" (1967), de Sidney Miller: "Sou violeiro caminhando só/ Por uma estrada, caminhando só (...)". O apogeu da viola foi, todos sabem, "Viola Enluarada" (1968), de Marcos e Paulo Sergio Valle: "Viola em noite enluarada/ No sertão é como espada/ Liberdade! (...)". E por aí seguiu a brilhante carreira da viola no nosso universo poético, até que, em 1972, o insuspeito Paulinho da Viola resolveu aposentar a dita cuja: "Minha viola vai pro fundo do baú/ Não haverá mais ilusão".
Como Theo, Edu, Chico, Sidney, Marcos e Paulo Sergio e Paulinho eram cariocas e não se viam violeiros à solta em Ipanema, imagino que quisessem dizer violão — aliás, o instrumento deles. Talvez viola soasse, digamos, mais autêntico.
O fato é que, desde então, a viola foi evaporada do cancioneiro nacional. Nunca mais ouvimos falar dela. É verdade que o próprio cancioneiro nacional também foi evaporado, ou quase. E, se a viola continua a ser citada, agora nas letras dos sertanejos de butique, é problema dela.
*Jornalista e escritor. Autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues. Membro da Academia Brasileira de Letras.