Por: Ruy Castro

A arte de escrever bem

Termos e frases descartáveis? Por que usar? | Foto: Aaron Burden/Unsplash

Às vezes vejo-me envolvido em discussões sobre "escrever bem". Já pensei no assunto e tenho uma ideia formada: ninguém "escreve bem". Alguns "reescrevem bem" e, com isso, produzem textos mais enxutos, claros e eficientes. O segredo está em ler o que se acabou de escrever, enxergar os excessos, as impropriedades, as palavras ou frases obscuras e meter-lhes a caneta — português arcaico para "deletar". Donde o mais exato seria dizer que ninguém escreve bem de primeira. Um ou outro achado brilhante pode piscar de repente na frase, e é ótimo quando acontece. Mas, em geral, tudo o que é fácil de ler foi difícil de escrever e vice-versa.

Reescrever consiste em expurgar o desnecessário. Se um adjetivo não servir de alimento ao substantivo a que se acopla, um dos dois está errado. E há os advérbios de modo que, automaticamente (epa, olha um!), se intrometem no texto e, geralmente (outro!), podem ser apagados sem prejuízo. Certa vez, revisei um livro de autor famoso e joguei fora tantos naturalmentes e principalmentes que dariam para encher um caminhão. O livro melhorou muito. Tenho para mim que os advérbios de modo estão para a escrita assim como os sisos para a boca: só servem para ocupar espaço e produzir cáries.

Reescrever exige colocar-se no lugar do leitor e perguntar se a informação precisa de certos anexos. Um deles é o "vale ressaltar que...", ao qual se segue a informação que se quer ressaltar. Experimente cortar o "vale ressaltar" e ir direto à informação. Descobrirá que não perderá nada com isso.

E, assim como "vale ressaltar", há o "é bom frisar", "cabe destacar", "convém assinalar", "cumpre notar", "deve-se salientar", "importa sublinhar", "é preciso enfatizar", "realçar", "atentar", "caracterizar" etc. e, claro, "pontuar" (por que não "virgular"?). Pesos mortos, inúteis. O papel aceita tudo, como sabemos. Mas muitos leitores não.

 

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