Por: Rudolfo Lago

Correio Político | O que poderá fazer Milei com um Congresso fragmentado?

Composições poderão inibir pauta radical de Milei | Foto: Reprodução TV

Há uma diferença grande entre o que experimentou a Argentina nestas eleições em comparação com o que houve no Brasil nos dois últimos pleitos presidenciais. Na Argentina, não houve, como aconteceu por aqui, uma polarização entre dois candidatos. Mas uma grande fragmentação. Javier Milei, o vencedor, e Sergio Massa, o derrotado, passaram do primeiro para o segundo turno com 66% dos votos argentinos. Essa grande massa que se dividiu entre outras opções no primeiro turno lança um grande desafio para Milei no Congresso. Para governar, o novo presidente argentino terá que fazer alianças. E, mesmo assim, elas não lhe garantirão em princípio uma maioria folgada. A aliança com o partido de Patricia Bulrich lhe garante 130 votos, somente um a mais que a maioria.

 

Pauta radical

Para o cientista político Kleber Castilho, pesquisador na Universidade de Helsinque, na Finlândia, é uma situação que deverá inibir possibilidade de Milei de fato imprimir sua pauta mais radical, de extinção do Banco Central, dolarização e rompimento com o Mercosul.

Juntos e Libertad

Somados, os partidos de Milei, La Libertad Avanza, e o de Bulrich, Juntos por El Cambio, somam 130 deputados. A maioria na Câmara argentina é 129. O Unión por La Patria, partido de Sergio Massa, junto com a Tercera Via e a Frente de Izquierda de Trabajadores, fazem 121.

No Senado, Javier Milei não terá maioria

Mesmo com alianças, Milei não terá maioria no Senado | Foto: Secretaria de Turismo de Buenos Aires

No Senado, a situação de Milei é mais complicada. Os oito senadores do La Libertad Avanza e os 24 do Juntos por El Cambio somam 32. A maioria seria 36. No caso, a maioria estará com a oposição. O Unión por La Patria de Sergio Massa tem 33 senadores. Aos quais se somarão os cinco da Tercera Via. "Milei terá que fazer concessões ao Congresso, e com isso, enfraquecer a sua pauta mais radical", avalia Kleber Carrilho. Para o cientista político, Milei não deverá ter apoio para coisas como dolarizar a economia, extinguir o Banco Central ou romper com o Brasil ou o Mercosul. Mesmo entre aqueles que podem agora se unir a ele.

Temas caros

"Tanto moeda como Banco Central são temas caros para os partidos que dominam o Congresso", considera o cientista político. No caso, portanto, mesmo em campos opostos, os peronistas e a centro-direita se uniriam para preservar a moeda e a instituição monetária.

Futuro

Esses desafios políticos que se projetam para Milei é que definirão até que ponto a sua vitória será de fato uma alavanca para um eventual retorno da direita nos demais países do continente. "Essa pode ser uma tendência, mas será preciso ver como ele irá se manter no poder".

Frustração

Se Milei não for capaz de imprimir sua pauta mais radical, isso poderá frustrar seus eleitores, especialmente se ele vier a se mostrar incapaz de dar alguma solução rápida para os graves problemas econômicos da Argentina. Isso poderá gerar uma pressão sobre Milei.

Pressão

Caso Milei sucumba a uma pressão por mudanças que o Congresso não queira fazer, isso pode complicar a sua situação, considera Carrilho. "Dificilmente, ele conseguirá desenvolver a agenda radical. Ou se adapta à centro-direita, ou terá vida curta como presidente".

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