Por: POR RUDOLFO LAGO

Correio Político | Entenda o jogo combinado de Pacheco e Alcolumbre

Alcolumbre combina com Pacheco. Nada é por acaso | Foto: Carolina Antunes/PR

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Davi Alcolumbre (União-AP), aprova pela manhã o projeto do Marco Temporal das terras indígenas. Na tarde do mesmo dia, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), leva o projeto ao plenário e o aprova. Em entrevista, Pacheco critica o Supremo Tribunal Federal (STF) e afirma que ele está extrapolando atribuições do Congresso. Defende o estabelecimento de mandatos para os ministros. Alcolumbre, em seguida, aprova em inacreditáveis 42 segundos uma PEC que limita as decisões individuais dos ministros da Corte. O jogo combinado entre Alcolumbre e Pacheco é claro. E tem muito menos relação com um real incômodo com o excesso de poder do Supremo. O ponto central desse jogo é a sucessão de Pacheco.

 

Criador

Pacheco e Alcolumbre são criatura e criador. Alcolumbre virou presidente do Senado em 2018, numa disputa então com Renan Calheiros (MDB-AL). Ficou dois anos, reelegeu-se para o biênio seguinte e elegeu Rodrigo Pacheco também por dois mandatos. Agora, quer voltar em 2025

Criatura

Pacheco foi eleito presidente do Senado com o apoio de Alcolumbre. Não poderá mais se reeleger. Assiste a uma articulação do MDB com o PSD, que busca também o apoio do governo, para a eleição do próximo presidente à sua revelia. Alia-se, então, novamente a Alcolumbre, para reconduzi-lo.

Apoios da oposição e do governo definirão o jogo

Renan articula nome para suceder Pacheco | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Na disputa, ainda não se posicionaram claramente nem o governo raiz (PT e PSB), nem a oposição (PL e Republicanos). MDB e PSD articulam-se para buscar o apoio do governo. O que faz, então, com que Alcolumbre e Pacheco se aproximem dos oposicionistas. E uma das pautas caras aos oposicionistas hoje é o ataque ao Judiciário, protagonista de ações como a dos atos antidemocráticos. O que se comenta no Senado é que tanto Alcolumbre quanto Pacheco sabem que as medidas contra o STF que estão patrocinando não terão futuro, mesmo se aprovadas. Elas seriam inconstitucionais. O que vale mais é o recado, a sinalização.

 

Sem futuro

Sobre o Marco Temporal, já há uma decisão contrária do STF. Portanto, se o tema voltar à Corte, o projeto será novamente considerado inconstitucional. Quanto a mandatos e decisões individuais, entende-se que seria uma interferência nas atribuições de outro poder.

Reação

Todos esses movimentos foram uma reação às conversas do MDB com o PSD. No PSD, dois senadores cogitam disputar: Otto Alencar (BA) e Eliziane Gama (MA). O MDB tem pretensões de retornar à Presidência, ainda, porém, sem um nome definido como candidato.

Conversa

De qualquer modo, recentemente Renan Calheiros conversou com o presidente do PSD, Gilberto Kassab. O MDB apoiaria na Câmara a candidatura do deputado Antonio Brito (PSD-BA) para a sucessão de Arthur Lira (PP-AL). Em troca, o PSD apoiaria no Senado o MDB.

Bolsonaro

Diante desses movimentos, Alcolumbre procurou o ex-presidente Jair Bolsonaro para ter seu apoio. E, então, se articular como nome dos oposicionistas. Alcolumbre esteve com Bolsonaro e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, há alguns dias. Depois, começou a guerra.