Por: Rudolfo Lago

Correio Político | Lira pode ter ido pro lixo de propósito

O quadro tem outras provocações | Foto: Reprodução

Há quem desconfie, dentro do governo e da própria Caixa Econômica Federal, que os responsáveis pela exposição "O Grito" bem sabiam do potencial de rolo e de provocação que ela teria. Especialmente com o quadro "Bandeiras", de Marília Scarabello. Seria uma reação, que uma fonte classificou como "infantil", à pressão que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o Centrão faziam desde o final do primeiro semestre pelo comando do banco. A presidente da Caixa, Rita Serrano, já sabia que acabaria demitida. E a presença ali do quadro seria uma forma de protesto. Que gerou reações imediatas. E o quadro acabou mesmo sendo o estopim da troca: Rita Serrano acabou demitida na tarde de quarta-feira (25).

 

Porteira fechada

No lugar de Rita Serrano, assume Carlos Vieira Fernandes. E o grupo comandado por Arthur Lira seguirá pressionando para ter o controle das 12 vice-presidências da Caixa. Ou seja, a situação ajudou a pressionar para que Lira obtivesse a porteira fechada.

Ingenuidade?

Os que acham que não foi coincidência argumentam que seria muita ingenuidade imaginar que não houvesse reação. O quadro polêmico tem outras provocações. Em outra parte, traz o ex-presidente Jair Bolsonaro defecando em cima da bandeira do Brasil.

Serrano buscava canal direto com Lula e ignorava a política

Rita não teria muito jogo de cintura para a política | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A curadora da exposição, Sylvia Werneck, em nota, admitiu que a mostra teria de fato um caráter provocador. Se incomodou algumas pessoas, cumpriu "sua função de problematizar uma narrativa única". É uma ideia que se choca com a nota divulgada pela Caixa após cancelar a exposição, quando afirmou que ela contrariava as diretrizes do programa cultural do banco, que veda manifestações de viés político-partidário. Segundo fonte, Rita Serrano negava a política. E buscava sempre um canal direto com Lula, ignorando outros políticos. A superintendente de Patrocínio, Eventos e Promoção da Caixa, Ana Fraga, é bem ligada a Rita Serrano.

Precipitou

O fato é que o rolo todo precipitou a troca da Caixa, se ela ainda não fosse acontecer nesta quarta-feira. Diante da notícia da exibição do quadro, Arthur Lira estava disposto a despejar um caminhão de problemas nas costas do governo, nas votações desta semana.

Vetos

Na terça-feira (24), ele já adiou a votação do projeto de taxação das offshores, o imposto dos super-ricos. E a disposição era hoje fazer com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sessão do Congresso para analisar os vetos presidenciais. E queria incluir o Marco Temporal.

Adiou

Coincidência ou não, demitida Rita Serrano e feita a troca por Carlos Vieira, indicado de Arthur Lira, a sessão de apreciação dos vetos foi adiada para a semana que vem. E o projeto de taxação dos super-ricos entrou na pauta de votação da Câmara. Lula cedeu, a pauta destravou.

Infantil

Por isso, a provocação, para a fonte, teria sido "infantil". Ela acabou ajudando Arthur Lira e o Centrão a obter o que queriam. Lula e o governo tiveram mais uma vez de ceder para que a pauta avançasse. Até a próxima crise que vier a ser criada. Proposital ou não.