Por: Rudolfo Lago

Correio Político | PP entra no modo Luís Eduardo e ACM

ACM e Luís Eduardo Magalhães | Foto: Lula Marques/FolhaPress

Como contamos por aqui ontem, o próprio ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, comentou que se o PP ficar dividido, com a Câmara na base do governo e o Senado na oposição, essa não será uma novidade. De fato, se assim fizer o PP repetirá uma estratégia que outros partidos e políticos já usaram em outros momentos. E que serve bem para aumentar a pressão sobre o governo no sentido de extrair ainda mais os cargos, as verbas, e tudo mais que se deseja. Avalia-se uma situação na qual o PP na Câmara apoiará o governo, e o do Senado ficará na oposição. Lembrou-se do antigo PMDB quando Padilha mencionou a situação. Mas um experiente observador da cena política recordou outro exemplo: Luís Eduardo e Antônio Carlos Magalhães, o ACM, filho e pai.

 

Lira e Ciro

No caso agora do PP, o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), avalizaria o apoio do partido, aderindo à base. Enquanto isso, no Senado, o presidente do partido, Ciro Nogueira (PI), ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro, encabeçaria a parcela oposicionista.

FHC

No governo Fernando Henrique Cardoso, assim fizeram Luís Eduardo e ACM. Luís Eduardo era, então, o presidente da Câmara. E ACM era senador, ex-ministro e ex-presidente do Senado. ACM batia no governo e Luís Eduardo, então, entrava para contemporizar.

O morde-e-assopra era todo combinado

Michel Temer e Dilma Rousseff | Foto: Orlando Brito

De acordo com esse observador, o jogo era todo combinado. Onde, quando e de que forma ACM bateria. E onde, quando e de que forma Luís Eduardo iria contemporizar. Com esse jogo, o PFL tornou-se protagonista de um governo cujo presidente era, na verdade, do PSDB. A base da ideia é tornar sempre meio incerto o apoio do partido, obrigando a uma negociação permanente. Em síntese: criar dificuldade para vender facilidade. ACM ocupava o papel de "tira mau" e Luís Eduardo encarnava o "tira bom". Deu tão certo que, não tivesse morrido, Luís Eduardo teria sido o escolhido como sucessor de Fernando Henrique na Presidência.

 

PMDB

O mesmo jogo foi feito pelo PMDB no primeiro governo Lula. Na transição, Lula desautorizou José Dirceu, que seria seu ministro da Casa Civil, a continuar negociando a entrada do partido na sua base. Lula não confiava no então presidente do PMDB, Michel Temer.

Mensalão

A decisão de não ter o PMDB na base foi a origem do Mensalão. Lula imaginou que poderia negociar apoios no varejo, e não no atacado. Ou seja: buscaria apoios pontuais no PMDB e em outros partidos em troca das verbas do que seria batizado de Mensalão.

Senado

No caso do PMDB, o jogo era invertido. Era o Senado de Renan Calheiros (AL) e José Sarney (MA) quem dava apoio então ao governo. E a Câmara de nomes como Temer era mais hostil. Quando estourou o Mensalão, o PMDB apresentou a fatura para salvar o governo.

Temer

No segundo governo Lula, o PMDB entrou oficialmente para a base. E Temer, de nome que Lula não confiava, virou o vice-presidente da sua sucessora, Dilma Rousseff. Até a nova crise, o impeachment, e a desconfiança de Dilma de que Temer participaria da trama.