Por: Rudolfo Lago

Correio Político | Pavões e tuiuiús: entenda a briga política na PGR

"Pavões" e "tuiuiús" disputam o poder na PGR | Foto: João Américo/Secom-PGR

Dentro do Ministério Público, há quem avalie que, ao final, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá decidir por uma opção pragmática para o cargo de procurador-geral da República, a exemplo do que fez quando escolheu seu advogado na Lava Jato, Cristiano Zanin, para o Supremo Tribunal Federal (STF). Para os procuradores que avaliam assim, tudo estaria inserido no mesmo raciocínio ao se avaliar a evolução do processo que tornou Lula condenado e preso. No caso específico da Procuradoria-Geral da República (PGR), essa história está vinculada a uma pesada disputa política interna entre dois grupos, que receberam os apelidos de "pavões" e "tuiuiús". Que se mistura à disputa entre garantistas e punitivistas que se vê também no STF.

 

Apostas

O mandato de Augusto Aras na PRG termina no próximo dia 26 de setembro. E até agora Lula não indicou exatamente quem irá substituí-lo. Há dois nomes que despontam: Paulo Gustavo Gonet e Antonio Carlos Bigonha. Mas poderá haver surpresas.

Grupos

Gonet estaria mais identificado com os "pavões" e Bigonha com os "tuiuiús". Gonet tem dois padrinhos fortes: os ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. Bigonha tem diversos amigos no PT. Presidiu a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).

O que são o "Cordão Azul" e o "Cordão Vermelho" da PGR?

Aras: nem "pavão" nem "tuiuiú" | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Para entender a disputa, é preciso compreender a briga política interna entre os procuradores. Antigos integrantes do MP, mais garantistas, são os chamados "pavões", ou o "Cordão Azul". Têm perfil mais próximo ao do falecido Geraldo Brindeiro, que foi o PGR de Fernando Henrique Cardoso. Os "tuiuiús", ou "Cordão Vermelho", ascenderam na primeira era PT, após a primeira eleição de Lula, quado Claudio Fonteles foi o PGR em 2003. Foi a partir daí que se iniciou o processo de eleição de uma lista tríplice para escolher o procurador-geral. Processo que não é uma regra. Tanto que Jair Bolsonaro ignorou a lista quando escolheu Aras.

Deltan

Na sua origem, os "tuiuiús", mais punitivistas, eram ligados à esquerda. Mas é do grupo que saíram Deltan Dallagnol e os demais procuradores da Lava Jato. Ou seja: se hoje Lula desconfia dos métodos punitivistas, ele poderá surpreender na escolha.

Aras

Ao longa da carreira, Augusto Aras moveu-se distante dos dois grupos, sem estar identificado a nenhum deles especificamente. Logo no começo do seu trabalho, passou a criticar os rumos da Lava Jato, trabalhando para tolher o que identificou com um MP paralelo.

Excessos

Aras tem se defendido dizendo que não tentou conter o combate à corrupção, mas os excessos. Por isso, pôs fim à força-tarefa da Lava Jato. A operação já tinha mais de 70 etapas. Assim, ele transferiu as ações para grupos permanentes, os chamados Gaecos.

Política

Há quem considere um grande risco uma instituição com o poder do Ministério Público ser movida como está por disputas políticas internas. Pode estar aí o cerne das distorções ocorridas na Lava Jato. Por isso, para os procuradores ouvidos, Lula pode surpreender.