Desde o início do governo, já foram liberados mais de R$ 15 bilhões em emendas orçamentárias. Na Esplanada dos Ministérios, não é incomum ouvir comentários de que, em algum momento, irá estourar algum novo escândalo do orçamento. Há quem ache mesmo que reside aí a hesitação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em fechar a negociação com o Centrão.

No final do dia, a minirreforma ministerial estava empacada outra vez. O interesse do grupo é comandar pastas que possuam esses recursos e capilaridade suficiente para que tais verbas venham a ser enviadas para os municípios das bases dos parlamentares. Esse é o interesse. Ao fazer a negociação, o governo precisa ter a garantia de que haverá um mínimo de controle.

A pretensão do governo é oferecer ao PP, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o Ministério do Esporte. Em princípio, a pasta comandada hoje por Ana Moser parecia servir, justamente porque há ali a chance de pulverizar recursos para os municípios.

Ao final, porém, o PP parece ter achado pouco. Quer mais verbas. E o governo estuda engordar, então, o orçamento do Esporte agora. O que o partido de Lira queria mesmo era o Desenvolvimento Social, com todos os seus programas para a população mais pobre.

Quem conhece a forma como os recursos orçamentários se distribuem avalia que o grande risco está mesmo na pulverização grande. Como aconteceu no chamado caso das escolas fake, quando diversos recursos para construção de escolas foram enviados em valores que não davam sequer para levantar uma parede. Há uma linha de corte nas auditorias: abaixo de determinado valor, as destinações não passam pelos crivos da Controladoria Geral da União e dos tribunais de contas. Esse o risco: destina-se recurso para diversos municípios. O valor de cada destinação é baixo e não se vigia. Mas, somado, o volume total é alto.

O caso das escolas fake não é o único caso de investigação a essa altura de destinação orçamentária. Há a investigação também dos kits de robótica em Alagoas e das verbas da Codevasf que envolvem o ministro das Comunicações, Juscelino Filho.

Desde o orçamento secreto, o poder do Congresso na destinação das verbas orçamentárias acentuou-se como nunca. Embora o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha proibido as emendas de relator, as RP-9, o acordo feito na reeleição de Arthur Lira manteve as verbas.

Segundo informações, Lula está preocupado com esse potencial de escândalo. E comenta que não quer virar um eterno refém de uma situação na qual o Centrão pressiona a cada votação e ele cede de uma maneira que seja interminável. Esse jogo precisa ter um limite.

No fundo, ele comenta que há um pouco mesmo da experiência de líder sindical. Nas negociações, ele precisava saber quando lhe era ou não conveniente pressionar o patrão com a ameaça de uma greve. É preciso que os dois lados sempre saibam a hora de esticar a corda.