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Coluna Ricardo Cravo Albin: O Pen Clube e a expressão

A liberdade de expressão para livros e para a imprensa sempre foi a pedra angular da convivência entre governantes e governados. O ser livre tem como direito básico o poder falar, “o expressar por palavras ou por escritos o que lhe vai na alma e na garganta”, como vomitou Voltaire em pelejas de seu tempo.

Pois é precisamente em nossa contemporaneidade, a do Brasil de hoje, que há controversas interpretações políticas em um governo que faz questão de se declarar fechado em ideologia de extrema direita. O falar e o escrever sem amarras deveria fecundar a liberdade da imprensa. Ou seja, são valores de essência, que nos são preciosos, porque já os perdemos em décadas recentes, ou em tempos mais remotos, anos 30 e 40.

Estas temporadas de possíveis imposições de governo sempre são preocupantes em relação a valores a serem preservados, a serem reconhecidos, a serem respeitados. E até melhorados.

Jamais poderão se esconder certos cânones de comportamento institucional e político, que haverão de ser cortejados a cada governo, a cada novo desenho de país.

A liberdade de expressão e de imprensa para qualquer escritor representa um pilar. Um fundamento de essência.

Agora mesmo, na última quinta-feira, foi eleita para presidir o Pen Clube do Brasil a chapa Universalidade e Defesa da Liberdade de Expressão. A filial brasileira do Pen Universal foi inaugurada em 1936 pelo acadêmico, benemérito e dramaturgo Claudio de Souza. A sede mundial fica em Londres já por mais de cem anos. Afinal, é o Pen o único órgão internacional (ao que sei) de escritores no Brasil. E existem dezenas de filiais espalhadas pelos cinco continentes.

Pois bem, a nova diretoria pretende seguir à risca duas bandeiras que são a essência desde sempre da instituição. A primeira é a intercomunicação com outros Clubes, em especial para lutar contra repressão de escritores espalhados pelo mundo. A segunda, essência de sua existência, será a intransigente defesa da liberdade de expressão de quem escreve, seja para livros, seja para jornais.

A liberdade de falar e pensar não só me é assunto de intimidade e de gosto, mas de ação concreta. Evoco aqui que empunhei armas contra a censura de diversões públicas entre 1979 e 1989. Comprovei a insensatez da censura, e me indignei com a sistematização da burrice e da truculência de vetos ao teatro, ao cinema, às músicas e, sobretudo, aos livros. Lutamos contra o horrendo Departamento de Censura de Diversões Públicas com intelectuais - convém sempre lembrar seus nomes - do porte de Pompeu de Sousa e Susana de Moraes, entre outros companheiros em representação da sociedade civil (ABL, SBAT, ABI, entre outros). E isso às barbas do Ministério da Justiça. O que, aliás, me rendeu uma conquista, o livro “Driblando a Censura ou de como o cutelo vil incidiu sobre a cultura” (Editora Gryphus, em 2002).

Naqueles tempos de defesa da liberdade de expressão, exaltávamos com convicção fervorosa a frase “é sempre melhor o barulho e o despudor das vozes da democracia ao silêncio das falácias virtuosas e das falas escondidas da ditadura”.

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