Por: Paulo Cézar Caju*

Hora de melhorar o nível técnico e social do futebol brasileiro

JK e Alexsander estão afastados do time principal do Fluminense por indisciplina | Foto: Marcelo Gonçalves/ Fluminense FC

Geraldinos, em mais uma rodada da Copa Libertadores, espanta-me que ainda, em pleno século XXI, a altitude venha a ser a desculpa pelos fracassos dos clubes quando atuam na Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. A coletiva do Tite, citando até Guardiola e como a ciência ajuda o futebol, mostrou o quanto o esporte hoje está moderno, porém, cheio de regalias. Quando era jogador, ninguém queria ser poupado, pois poderia facilmente perder a titularidade. Hoje, parece que alguns atletas são intocáveis e podem ser preservados, que no jogo seguinte estarão em campo, mesmo se o reserva entrar bem. Jogador não cansa no gramado porque são 22 pessoas correndo atrás da bola, com cada um ocupando seu espaço, com troca de passes, entre os três setores do campo, funcionando em conjunto - defesa (goleiro, laterais e zagueiros; meio (volantes e meias); ataque (atacantes).

E por falar em Tite e Flamengo, essa imprensa está cada vez mais clubista. Um programa esportivo dedicar meia hora ou mais para falar da derrota de um time, com justificativas que beiram a contradição, é algo surreal, para não ser deselegante. Da mesma forma que a altitude é ruim para os jogadores brasileiros, o clima de 50 graus também incomoda as outras equipes da América do Sul. Quando tinha jogos na Bolívia, Peru, Equador e Colômbia, íamos antes para nos adaptar. Se o futebol “moderno” de hoje tem a ciência como suporte, por que não mandar uma equipe reserva já para treinar em La Paz, já que isto estava no planejamento? Em São Paulo, Palmeiras e Corinthians dominam o noticiário. A imprensa de lá comenta que o Palmeiras fez uma virada heróica, mas esquecem de falar que o goleiro do Del Valle falhou no primeiro gol e que isso pode ter desestabilizado o time equatoriano durante o jogo. Até porque, sair vencendo de 2 a 0 no intervalo é uma situação e sair vencendo de 2 a 1, mas com o gol do adversário sendo de um erro individual, é outra.

Dois assuntos não podem deixar de ser comentados. O primeiro é o depoimento de John Textor na CPI das Apostas Esportivas. O que o ex-comentarista e atual senador por Goiás, Jorge Kajuru, disse durante o depoimento do dono da SAF do Botafogo merece aplausos. Este caso lembra muito o das apostas das lotéricas da década de 1980, quando 125 pessoas foram denunciadas e 20 indiciadas. Outro, mais recente, foi no Brasileirão de 2005, quando 11 partidas apitadas pelo então árbitro Edilson Pereira de Carvalho foram anuladas e realizadas novamente. Se o que Textor realmente diz for verdade, que os culpados sejam condenados.

O outro é o caso dos jogadores do Fluminense. Isso é reflexo do comportamento do Diniz para com os jogadores. Um técnico que fala palavrões, berra, grita e xinga em campo, por mais que fora dela possa fazer o papel de psicólogo, outra formação acadêmica dele, mostra o quanto descontrolado ele é e a consequência disso foi este caso.

Antes das pérolas, como alguns dirigentes conseguem transformar grandes clubes em medianos. Vasco, Corinthians, Cruzeiro, principalmente, que têm tudo para disputarem por títulos, pela tradição, podem, ao que tudo indica, estarem disputando contra o rebaixamento. Botafogo, São Paulo e Internacional também podem ser incluídos nesta lista, mas com ressalvas, pois suas administrações ainda são melhores que as dos três primeiros clubes citados.

Pérolas da semana

1 - "Virou a chave e trocou o pneu com time andando na primeira prateleira" (clube virou oficina agora)

2 - "Jogador tentou a segunda bola (só existe uma em campo!), fazendo duelo centralizado, diminuindo o padrão e amassando o adversário, moldando o primeiro tempo".

3 - "Tapa na orelha da bola (bola não tem cara nem face!), trocando passe com os companheiros"

4 - Zona de conforto para jogar (traga-me um sofá), com um volante caçador" (vamos pegar um rifle)

5 - "Fazer a rotação com um atacante agudo e um ala transitando, oferecendo o lado para o falso 9, entrando com o tanque cheio, de gasolina, faltando 15 minutos para o segundo tempo".

6 - "Viajando pela diagonal por dentro, espetando uma bola mais alta, fazendo assistência pela vertical, trabalhando a largura, encaixando a linha de 5 com conforto, com a retranca costumeira do futebol" (sem comentários).

7 - "Compactado defensivamente, reconfigurando o GPS, quebrando as linhas e mexendo nos setores ­- defesa, meio campo e ataque, com jogadores de lado de campo, com atacante se oferecendo lá na frente" (vou chamar a ambulância para socorrê-los)

*Ex-jogador de futebol. Fez parte da seleção do Tricampeonato Mundial no México em 1970. Atuou nos quatro grandes clubes do Rio (Flamengo, Botafogo, Vasco e Fluminense), Corinthians, Grêmio e Olympique de Marseille (França).